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ESTUDOS BIBLICOS

A EXISTÊNCIA DE DEUS

O fato da existência de Deus é tanto o ponto de partida lógico como o escriturístico de um estudo sistemático da doutrina da Bíblia. É o ponto de partida lógico porque o fato da existência de Deus sotopõe-se a todas as outras doutrinas da Bíblia. Sem a existência de Deus todas as outras doutrinas da Bíblia seriam sem sentido. É o ponto de partida escriturístico porque disso nos capacita o primeiro verso da Bíblia.
I. A existência de Deus está assumida na Bíblia.
A Bíblia principia por assumir e declarar a existência de Deus sem empreender prová-la. Isto é um fato digno de nota. Ao comentá-lo, diz J. M. Pendleton em "Christian Doctrines": "Moisés, sob inspiração divina, teve, sem dúvida, as melhores boas razões para o curso adotado por Moisés; a saber:
O autor crê que isto é verdade e crê que há pelo menos três razões para o curso adotado por Moisés; a saber:
1. ISRAEL, EM CUJO BENEFÍCIO MOISÉS ESCREVEU PRIMÁRIAMENTE, JÁ CRIA EM DEUS
Daí, o propósito de Moisés, que foi mais prático que teológico, não erigiu uma discussão de provas da existência de Deus.
2. AS EVIDÊNCIAS DA EXISTÊNCIA DE DEUS SÃO VISÍVEIS E VIGOROSAS
Assim, foi necessário, mesmo para a raça humana como um todo, que um discurso prático tratasse das evidências da existência de Deus. Mas o nosso estudo é teológico bem como prático; logo, é-nos oportuno notar estas evidências visíveis e vigorosas. Elas nos vêem da:
(1) Criação Inanimada
A. A matéria não é eterna e, portanto deve ter sido criada.
George McCready Price, autor de "Fundamentals of Geology" e outros livros científicos, diz: "Os fatos da radioatividade proíbem muito positivamente a eternidade passada da matéria. Daí, a conclusão é silogística: a matéria deve ter-se originado ao mesmo tempo no passado..." (Q. E. D., pág. 30). O Professor Edward Clodd diz que "tudo aponta para uma duração finita da criação atual" (Story of Creation, pág. 137). "Que a forma presente do universo não é eterna no passado, mas começou a ser, atesta-nos não só a observação pessoal senão também o testemunho da geologia" (A. H. Strong Sistematic Theology, pág. 40).
B. A matéria deve ter sido criada por outro processo que não os naturais; logo, a evidência de um criador pessoal.
Diz o Prof. Price.: "Há uma ambigüidade de evidência. Tanto quanto a ciência moderna pode lançar luz sobre a questão, deve ter havido uma criação real dos materiais de que se compõe o nosso mundo, uma criação inteiramente diferente de qualquer processo agora em voga, tanto em qualidade como em grau". (Q. E. D. pág. 25). A origem das coisas não se pode computar sobre uma base naturalística. Buscando assim fazer, Darwin foi obrigado a dizer: "Estou num lamaçal desesperado." Alguém podia falar tanto de livros serem escritos pelas leis da soletração e da gramática como do universo ser feito pela operação de mera lei.
Assim está a Bíblia de inteiro acordo com os achados da ciência moderna quando ela declara: "No princípio Deus criou os céus e a terra." (Gênesis 1:1).
(2) Criação Animada
A. A Matéria viva não pode provir da não-viva.
Escrevendo no "London Times", disse Lord Kelvin: "Há quarenta anos perguntei a Liebig, andando nalgum lugar pelo campo, se ele acreditava que o capim e as flores que víamos ao nosso redor cresciam por meras forças químicas". Ele respondeu: "Não mais do que eu podia crer que um livro de botânica que as descrevesse pudesse crescer por meras forças químicas". Numa preleção perante o Instituto Real de Londres, Tyndall afirmou candidamente os resultados de oito meses de árduos experiências como segue: "Do princípio ao fim do inquérito não há, como vistes, uma soma de evidência a favor da doutrina de geração espontânea... Na mais baixa como na mais elevada das criaturas organizadas o método da natureza é: que a vida será o produto de vida antecedente". O Professor Conn diz: "Não há a mais leve evidência de que a matéria viva possa surgir da matéria morta. A geração espontânea está universalmente vencida" (Evolution of Today, pág. 26). E o Sr. Huxley foi forçado a admitir: "A doutrina que a vida somente pode vir da vida está vitoriosa em toda a linha" (The Other Side of Evolution, pág. 25).
B. Desde que a matéria não é eterna, a vida física, que envolve a matéria viva, não pode ser eterna.
O fato de a matéria não ser eterna proíbe a suposição que a vida física é o resultado de uma série infinita de gerações. E desde que, como vimos, a matéria não pode provir da não-viva, somos forçados a aceitar o fato de um criador pessoal, não-material.
(3) A Consciência Humana
Para fins práticos, a consciência pode ser definida como a faculdade ou poder humano de aprovar ou condenar suas ações numa base moral. O apóstolo Paulo, um dos maiores eruditos do seu tempo, afirmou que os pagãos, que não tinham ouvido de Deus ou de Sua lei, mostravam "a obra da lei escrita em seus corações, testificando juntamente a sua consciência e seus pensamentos, ora acusando-se, ora defendendo-se" (Romanos 2:15). Paulo assim afirmou de homens que não aprenderam de um padrão moral autorizado e tinham um senso comum do direito e do errado. Eruditos modernos nos dizem que os povos mais rudimentares da terra têm consciência.
Não se pode dizer, portanto, que o homem tem consciência por causa dos ensinos morais que ele recebeu. Não se pode duvidar que a instrução moral aguça a consciência e faz sua sensibilidade mais pungente; mas a presença da consciência no pagão ignorante mostra que a educação moral não produz consciência.
A consciência, então, nos capacita da existência da lei. A existência da lei implica a existência de um legislador; logo a consciência humana atesta o fato da existência de Deus.
(4) Ordem, Desígnio e Adaptação no Universo,
Ordem, desígnio e adaptação permeiam o universo. "Desde que a ordem e a colocação útil permeiam o universo, deve existir uma inteligência adequada para dirigir esta colocação a fins úteis" (Strong, Systematic Theology, pág. 42).
Vemos ordem maravilhosa nos movimentos dos corpos celestes. Observamos desígnio admirável no fato de o homem respirar ar, tira muito do oxigênio e devolve o ar carregado de dióxido de carbono, que é inútil ao homem. As plantas, por sua vez, tomam o dióxido de carbono, um alimento essencial da planta, do ar, e deitam oxigênio. Temos admirável adaptação no ajuste do homem para viver sobre a terra e no ajuste da terra para lugar de habitação do homem.
Tudo disto evidencia um criador inteligente. É o suficiente para convencer a quaisquer cujas mentes não estão cegadas pelo preconceito. Alguém podia crer do mesmo modo que é por acidente que os rios nos países civilizados banham povoações e cidades como crer que a ordem, o desígnio e a adaptação no universo são produtos de mero acaso.
(5) A Bíblia
A referência aqui não é ao testemunho da Bíblia concernente à existência de Deus. É ilógico dar a autoridade da Bíblia como prova da existência de Deus, porque a autoridade da Bíblia implica a existência de Deus. Semelhante curso vale por perguntar a pergunta: Mas referimos aqui a:
A. A natureza do conteúdo da Bíblia
Bem falado foi que a Bíblia é um livro tal que o homem não o podia ter escrito, se o quisesse, como não o teria escrito, se pudesse. Ela revela verdades que o homem, deixado a si mesmo nunca podia ter descoberto. Uma discussão mais ampla desta fato virá no próximo capítulo. E, se o homem pudesse, porque escreveria ele um livro que o condena como criatura pecaminosa, falida, rebelde, merecendo a ira de Deus? É da natureza humana condenar-se assim a si mesma?
B. A profecia cumprida
O cumprimento minucioso de dezenas de profecias do Velho Testamento está arquivado em o Novo Testamento, o qual traz a evidência interna de uma história verossímil. O cumprimento da profecia evidencia um ser supremo que inspirou a profecia.
C. A Vida de Jesus
Aceitando o testemunho do Evangelho como possuindo as credenciais de uma história verossímil, vemos em Jesus uma vida singular. Nem a hereditariedade, nem o ambiente, as duas forças naturais na formação do caráter, podem dar conta de Sua vida. Assim temos evidência de um ser divino que habitou Jesus.
D. A Ressurreição de Jesus
A ressurreição de Jesus, como um fato sobrenatural e bem atestado mostra que Ele era divino. Temos assim subsequente evidência de que há um ser divino.
Prova da ressurreição de Jesus. Depois de ouvir uma conversação num trem entre dois homens que discutiam a possibilidade de ser enganado sobre a ressurreição de Jesus, W. E. Fendley, advogado de Mississippi, escreveu um artigo que foi publicado no "Western Recorder" de 9 de dezembro de 1920. Ele abordou a matéria como advogado e deu as três seguintes razões para negar a plausibilidade da sugestão que o corpo de Jesus foi roubado: (1) "Não era ocasião oportuna para roubar o corpo". O fato que três festas judaicas ocorreram no tempo da crucificação certifica que as ruas de Jerusalém estariam cheias de gente. Por essa razão o Sr. Fendley diz que não era boa ocasião para roubar-se o corpo. (2) "Havia cinco penalidades de morte ligadas ao roubo do corpo e nenhuma delas foi imposta ou executada". As penalidades são dadas como sendo: primeira, por permitir que o selo fosse rompido; segunda, por quebrar o selo; terceira, por roubar o corpo; quarta, por permitir roubar o copo; quinta, por dormir quando em serviço. (3) "Nego outra vez o alegado sobre o fundamento de testemunho premeditado e não premeditado." E então ele mostra como os soldados vieram do sepulcro e disseram que um anjo os enxotará de lá e que, quando peitados pelos fariseus, disseram que o corpo de Jesus fora roubado enquanto eles, soldados, dormiram.
O Sr. Fendley prossegue dando cinco pontos que se devem crer para crê-se neste relatório dos soldados, que são: (1) "Devem crer que sessenta e quatro soldados romanos sob pena de morte dormiram todos de uma vez". (2) "Devem aceitar o testemunho dos dorminhocos". (3) "Devem crer que os discípulos, que estavam tão medrosos, todos de uma vez se tornaram tremendamente ousados". (4) "Outra vez, devem crer que os ladrões tiveram bastante tempo de dobrar as roupas mortuárias e colocá-las aceiadamente de um lado". (5) "Também devem crer que esses discípulos arriscariam suas vidas por um impostor defunto, quando o não fizeram por Salvador vivo".
3. O FATO DA EXISTÊNCIA DE DEUS É ACEITO QUASE UNIVERSALMENTE
Isto se dá como a terceira razão que justifica o curso seguido por Moisés em assumir e declarar o fato da existência de Deus sem oferecer quaisquer provas. Os raros que negam a existência de Deus são insignificantes. "As tribos mais baixas tem consciência, temem a morte, crêem em feiticeiras, propiciam ou afugentam maus destinos. Mesmo o fetichista, que a uma pedra ou a uma árvore chama de um deus, mostra que já tem a idéia de Deus" (Strong, Systematic Theology, pág. 31). "A existência de Deus e a vida futura são em toda a parte reconhecidas na África" (Livingstone).
Os homens sentem instintivamente a existência de Deus. Por que, então, alguns a negam? É por causa de falta de evidência? Não, é somente por não lhes agradar este sentimento. Ele os perturba na sua vida pecaminosa. Portanto, conjuram argumentos que erradiquem o pensamento de Deus de suas mentes. Todo ateu e agnóstico lutam, principalmente para convencer-se. Quando eles apresentam os seus argumentos a outrem, é em parte por um desejo de prová-los e em parte em defesa própria, nunca por um sentimento que suas idéias podem ser de qualquer auxílio a outros.
Um ateu é um homem que, por amor ao pecado, entremeteu-se na sua mente e a trouxe a uma condição de guerra com o seu coração em que a mente assalta o coração e tenta arrebatar dele o sentimento de Deus. O coração contra-ataca e compele a mente a reter o pensamento de Deus. Neste prélio a mente, portanto, está constantemente procurando argumentos para usar como munição. Ao passo que descobre esses argumentos, desfere-os contra o coração com o mais alto barulho possível. Isto é porque o ateu gosta de expor seu pensamento. Está em guerra consigo mesmo e ela lhe dá confiança quando ele ouve seus canhões roncarem.
Há evidências, contudo, de que a mente do ateu nunca está inteiramente vitoriosa sobre o seu coração. Hume disse a um amigo quando andavam numa noite estrelada: "Adão, há um Deus". Shelley, que foi excluído de Oxford por escrever um panfleto sobre a "Necessidade de Ateísmo", deliciou-se em pensar de um belo espírito intelectual permeando o universo. Voltaire, diz-se, orou numa tempestade alpina e, ao morrer, disse: "Ó Deus - se houver um Deus - tem misericórdia de mim". Portanto, pode-se concluir com Calvino: "Os que julgam retamente concordarão sempre em que há um senso indelével de divindade gravado sobre as mentes dos homens."
Antes de passar adiante, presume-se bom notar as fontes desta crença quase universal na existência de Deus. Há duas fontes desta crença; a saber:
(1) A Tradição.
Cronologicamente, nossa crença em Deus vem da tradição. Recebemos nossas primeiras idéias de Deus de nossos pais. Não há dúvida que isto tem sido verdade de cada sucessiva geração desde o princípio. Mas não basta a tradição para dar conta da aceitação quase universal do fato da existência de Deus. O fato que somente uns poucos repelem esta aceitação (é duvidoso que alguém sempre a rejeite completamente) mostra que há uma confirmação íntima na crença tradicional da existência de Deus. Isto aponta-nos à segunda fonte desta crença, que é:
(2) Intuição.
Logicamente, nossa crença em Deus vem da intuição. Intuição é a percepção imediata da verdade sem um processo cônscio de arrazoamento. Um fato ou verdade assim percebidos chama-se uma intuição. Intuições são "primeiras verdades", sem as quais séria impossível todo pensamento refletivo. Nossas mentes são constituídas de tal modo a envolverem estas "verdades primárias" logo que se apresentem as devidas ocasiões.
A. Prova que a crença quase universal em Deus procede logicamente da intuição e não de arrazoamento.
(a) A grande maior dos homens nunca tentou arrazoar o fato da existência de Deus, nem são capazes de semelhante arrazoamento, que servisse para lhes fortificar a crença na existência de Deus.
(b) A energia da crença dos homens na existência de Deus não existe em proporção ao desenvolvimento da faculdade raciocinante, como seria o caso se essa crença fosse primariamente o resultado de arrazoamento.
(c) A razão não pode demonstrar cabalmente o fato da existência de Deus. Em todo o nosso arrazoamento sobre a existência de Deus devemos começar com admissões intuitivas que não podemos demonstrar. Assim, quando os homens aceitam o fato da existência de Deus, aceitam mais do que a exata razão os levaria a aceitarem.
B. A existência de Deus como "Verdade Primária".
(a) Definição. "Uma verdade primária é um conhecimento que, conquanto desenvolvido em ocasiões de observação e reflexão, delas não se deriva, - um conhecimento, pelo contrário, que tem tal prioridade lógica que deve ser assumido ou suposto para se fazer qualquer observação e reflexão possíveis. Semelhantes verdades não são, portanto, reconhecidas como primeiras em ordem de tempo; algumas delas assentam um tanto tarde no crescimento da mente; pela grande maioria dos homens elas nunca são conscienciosamente formuladas, de modo algum. Contudo, elas constituem a presunção necessária sobre a qual descansa todo outro conhecimento, tendo a mente não só a capacidade inata de envolvê-las logo que se apresentem as devidas ocasiões se não também o reconhecimento delas como inevitável logo que a mente principia a dar a si mesma conta de seu próprio conhecimento" (Strong, Systematic Theology, pág. 30).
(b) Prova. "Os processos do pensamento reflexivo implicam que o universo está fundado na razão e é a expressão dela" (Harris, Philosophic Basic of Theism). "A indução descansa sobre a presunção, como ela exige para seu fundamento, que existe uma divindade pessoal e pensante... Ela não tem sentido ou valía a menos que assumamos estar o universo constituído de tal modo que pressuponha um originador absoluto e incondicional de suas forças e leis... Analisamos os diversos processos do conhecimento nos seus dados sotopostos e achamos que o dado que se sotopõe a eles todos é o de uma inteligência auto-existente" (Porter, Human Intellect). "A razão pensa em Deus como existente e ela não séria razão se não pensasse em Deus como existente" (Dorner, Glaubenslehre). É por esta razão que Deus disse na Sua Palavra: "Disse o tolo no seu coração: Não há Deus" (Salmo 14:1). Só um tolo negará a existência de Deus. Alguns tolos tais são educados; alguns sem letra, mas, não obstante, são tolos, porque não tem conhecimento ou ao menos não reconhecem nem mesmo o princípio da sabedoria, o temor do Senhor. Veja Provérbios 1:7.
II. A existência de Deus não é demonstrável matematicamente, contudo, é mais certa do que qualquer conclusão da razão.
1. A EXISTÊNCIA DE DEUS NÃO É DEMONSTRÁVEL MATEMÁTICAMENTE.
A respeito de todos os argumentos a favor do fato da existência de Deus, diz Strong: "Estes argumentos são prováveis, não demonstráveis" (Systematic Theology, pág. 39). Lemos outra vez: "Nem pretendi que a existência, ainda a deste Ser, pode ser demonstrada como demonstramos as verdades abstratas da ciência" (Diman, Theistic Argument, pág. 363). Strong cita Andrew Fuller como questionando "se a argumentação a favor da existência de Deus não tem mais cépticos do que crentes"; e então acrescenta: "Tanto quanto isto é verdade, devido é a uma saciedade de argumentos e à noção exagerada do que se pode esperar deles" (Systematic Theology, pág. 40).
2. A EXISTÊNCIA DE DEUS, CONTUDO, É MAIS CERTA DO QUE QUALQUER CONCLUSÃO DA RAZÃO.
Leia o estudante novamente as citações dadas apara mostrar que a existência de Deus é uma "verdade primária", uma verdade que está assumida por todos no processo da razão, "O que nega a existência de Deus deve assumir, tacitamente, essa existência no seu próprio argumento, por empregar processos lógicos cuja validade descansa sobre o ato da existência de Deus" (Strong, Systematic Theology, pág. 33). É uma verdade axiomática que aquilo que é o fundamento de toda a razão é mais certo do que qualquer conclusão da razão. "Não podemos provar que Deus é, mas podemos mostrar que, em face de qualquer conhecimento, pensamento, razão do homem, deve o homem assumir que Deus é" (Strong, Systematic Theology, pág. 34).
3. A EXISTÊNCIA DE DEUS NÃO É O ÚNICO FATO QUE NÃO PODE SER DEMONSTRADO MATEMATICAMENTE.
Nenhum homem pode demonstrar a existência do tempo, do espaço, ou a realidade da matéria por um processo estritamente lógico. Não se pode demonstra nem a realidade de sua própria existência. Não podemos provar absolutamente que não é alucinação tudo quanto vemos, ouvimos e sentimos. Todavia, nós nos sentimos certos sobre essas coisas e pouca gente alguma vez pensou em discuti-las. Quem o faz é considerado um energúmeno. O mesmo séria sempre verdade do que questionasse a existência de Deus. Um agnóstico ou um ateu, para serem coerentes, teriam, de assumir a mesma atitude para com toda a verdade cientifica como a que assume para com a existência de Deus; porque todos os ramos da ciência devem confiar nas intuições da mente como o fundamento de toda a observação.
"A gente mais irrazoável do mundo é aquela que no sentido estreito depende unicamente da razão" (Strong). "A crença em Deus não é a conclusão de uma demonstração, mas a solução de um problema" (Strong); e esse problema é o problema da origem do universo. "O universo, como um grande fato, requer uma explanação racional e ... e a explanação que se pode possivelmente dar é essa fornecida na concepção de um tal Ser (como Deus). Nesta conclusão a razão descansa e recusa-se a descansar em qualquer outra" (Diman, Theistic Argument). "Chegamos a uma crença científica na existência de Deus tanto como a qualquer outra verdade humana possível. Assumímo-la como uma hipótese absolutamente necessária para dar conta do fenômeno do universo; então evidência de todos os cantos começa a convergir sobre ela, até que, no processo do tempo, o senso comum da humanidade, cultivado e iluminado pelo conhecimento sempre crescente, pronuncia-se sobre a validade da hipótese com uma voz escassamente menos decidida e universal do que ele o faz no caso de nossas mais elevadas convicções científicas" (Morell, Philosiphic Fragments). Logo, podemos dizer: "Deus é o fato mais certo do conhecimento objetivo" (Bowne, Metaphysics).
III. A existência de Deus, portanto, pode ser tomada por concedida e proclamada ousadamente.
Os fatos precitados deveriam fazer o pregador ousado na sua proclamação do fato da existência de Deus, não temendo de proclamá-la confiadamente aos profanos. Estamos sobre terreno seguro em proclamar esta verdade. Nenhum homem pode logradamente contrariar nossa mensagem.
Vezes há, talvez, quando o pregador no púlpito devera discutir as evidências da existência de Deus; todavia, como uma coisa usual, ele deveria assumi-la e declará-la como Moisés fez. E quando ele trata das evidências da existência de Deus, não as sobrecarregue de modo a deixar a impressão que a validade do fato da existência de Deus depende de uma rigorosa demonstração racional.

Autor: Thomas Paul Simmons, D.Th.

SATANÁS ! SUA ORIGEM, OBRA E DESTINO

Nenhum crente na inspiração plenária das Escrituras pode duvidar da existência de um diabo pessoal. A realidade de semelhante entidade está indelevelmente estampada nas páginas do Santo Escrito. "Não podemos negar a personalidade de Satanás, exceto sobre princípios que nos compeliriam a negar a existência de anjos, a personalidade do Espírito Santo e a do Pai, Deus" (Strong, Systematic Theology, pág. 223).
Ainda mesmo que a Bíblia nada dissesse da existência de um tal ser, talvez fôssemos compelidos a crer na sua existência como uma explanação do poder sutil e escravizador do pecado.
I. A ORIGEM DE SATANÁS
A existência de um ser ímpio tal como Satanás é, em face de nossa crença em Deus como sendo infinitamente santo e contudo criador de todas as outras coisas, apresenta esta pergunta inescapável: Como vamos dar conta de sua existência?
Cético tem imaginado que a pergunta: Quem fez o diabo? Oferece uma objeção irrespondível à doutrina cristã de Deus. Mas a Bíblia responde a esta pergunta clara e razoavelmente.
1. SATANÁS, UM ANJO DECAÍDO.
Afirmamos isso pelas três seguintes razões:
(1) Ele é da mesma natureza que os anjos.
As obras atribuídas ao diabo tornam tarefa a nós impossível compreendê-lo algo outro que incorpóreo. Se ele fosse material, limitar-se-ia ao espaço; e, portanto, não poderia prosseguir com as obras universais de impiedade a ele atribuídas na Bíblia.
(2) Ele é o líder de certos anjos.
Em Mateus 25:41 Cristo usa a expressão: "O diabo e seus anjos".
(3) Um destino comum espera Satanás e esses anjos.
Na passagem referida há pouco a Cristo Ele nos conta que o inferno foi preparado tanto para o diabo como para seus anjos.
Concluímos que esses anjos dos quais Satanás é o líder e de cujo castigo ele se aquinhoará são os anjos decaídos mencionados por Pedro e Judas. Parece-nos claro, então, que Satanás mesmo é um anjo decaído.
A declaração em João 8:44 para o efeito que o diabo "foi homicida desde o princípio" não precisa de ser tomada como permanecendo em conflito com o precitado. A expressão "desde o princípio" não precisa de ser tomada como referindo-se ao princípio da existência do diabo: pode referir-se, e cremos que se refere, ao princípio da história humana.
2. DADOS DA QUEDA DE SATANÁS.
Cremos que temos na Escritura duas relações fragmentárias da queda de Satanás. Referimo-nos a Ezequiel 28:12-18 e Isaías 14:12-17.
A primeira dessas passagens foi endereçada ao rei de Tiro; a segunda ao rei de Babilônia. Em ambas, mas mais especialmente na primeira, algo da linguagem é forte demais para aplicar-se a qualquer homem. Cremos que essas passagens, quais muitas outras profecias, tem uma dupla referência. Isto é verdade de algumas das profecias concernentes ao reajuntamento de Israel: sendo a sua referência imediata à volta de Israel após os setenta anos de cativeiro na Babilônia. Mas, elas fazem também uma clara referência remota ao reajuntamento de Israel disperso no fim dos tempos. Em Mateus 24:4-51 temos uma dupla referência maravilhosamente trabalhada em conjunto. A razão desta dupla referência é que a destruição de Jerusalém em 70 A. D. foi um tipo do cerco final de Jerusalém logo em precedência ao segundo advento de Cristo à terra para julgar o mundo e estabelecer o Seu reino milenial; e, sem duvida, a razão da dupla referência nas passagens que estamos considerando de Ezequiel e Isaias é que os reis de Tiro e Babilônia foram tomados como tipos "do homem do pecado" (2 Tessalonicenses 2:3,4), a "besta" do Apocalipse (Apocalipse 13 e 17), que não será senão uma ferramenta nas mãos de Satanás. Portanto, as palavras dos profetas vêem além desses reis ao poder dominante atrás deles, dirigindo-se a Satanás através dos seus representantes. Temos outros casos onde Satanás está assim endereçados. Em Gênesis 3:15 Satanás está endereçado através da serpente, seu instrumento e em Mateus 16:22,23 através de Pedro, em quem Cristo percebeu o espírito de Satanás.
(1) Referência a Satanás na sua condição Intacta.
"Tu és o Selador da soma, cheio de sabedoria e perfeito em formosura; estavas no Edem, jardim de Deus, toda a pedra preciosa era a tua cobertura: sardônia, topázio, diamante, ônix, jaspe, safira, carbúnculo, esmeralda e ouro; a obra dos teus tambores e dos teus pífaros estava em ti, foram preparados no dia em que foste criados. Tu eras o querubim, ungido para cobridor e te estabeleci; no monte santo de Deus estavas, no meio das pedras fulgentes andavas. Perfeito eras nos teus caminhos desde o dia em que foste criado, até que se achou iniqüidade em ti" (Ezequiel 28:12-15).
(2) Referência à queda de Satanás.
"Na multiplicação do teu comércio encheram o teu interior de violência e pecaste; pelo que te lançarei profanado do monte de Deus e te farei perecer, ó querubim cobridor, do meio das pedras fulgentes. Elevou-se o teu coração por causa da tua formosura, corrompeste a tua sabedoria por causa do teu resplendor, por terra te lancei, diante dos reis te pus, para que a ti olhem. Pela multidão das tuas iniqüidades, pela injustiça do teu comércio profanaste os teus santuários. Eu, pois, fiz sair do meio de ti um fogo que te consumiu a ti e te tornei em cinzas sobre a terra, aos olhos de todos os que te vêem" (Ezequiel 28:16-18).
"Como caíste desde o céu, ó estrela da manhã, filha da alva do dia? Como foste cortado por terra, tu que debilitavas as nações? E tu dizias no teus coração: Eu subirei ao céu, por cima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono e no monte da congregação me assentarei, da banda dos lados do Norte. Subirei sobre as alturas das nuvens e serei semelhante ao Altíssimo. E contudo derribado serás no inferno, aos lados da cova. Os que te virem te contemplarão, considerar-te-ão e dirão: É este o varão que fazia estremecer a terra e que fazia tremer os reinos? Que punha o mundo como deserto e assolava as suas cidades? Que a seus presos não deixava soltos para suas casas?" (Isaías 14:12-17).
Destas duas relações parece claro que Satanás caiu pelo orgulho. Está isto em harmonia com as seguintes passagens:
Provérbios 16:18. A soberba precede a ruína e o espírito altivo a queda.
1 Timóteo 3:2,6. Convém, pois, que o bispo seja irrepreensível ... não neófito, para que, ensoberbecendo-se, não caia na condenação do diabo.
Por Ezequiel entendemos que Satanás acupava lugar muito elevado entre os anjos no seu estado intacto. "Eras o querubim ungido que cobrias e eu te estabeleci, de maneira que estavas sobre o santo monte de Deus". Notai que ele não era "um querubim ungido", mas "o querubim ungido". "Ungido" quer dizer separado como um sacerdote ao serviço de Deus. "O ungido querubim que cobre" alude provavelmente ao querubim que cobria o propiciatório com suas asas no templo (Êxodo 37:9). Isto parece indicar que o diabo era o líder da adoração angélica; provavelmente ocupava o lugar que agora é ocupado por Miguel, o arcanjo.
II. A OBRA DE SATANAZ
1. O PECADO ORIGINADO NO UNIVERSO.
As passagens supra, que dão um relato velado da queda de Satanás, apontam-nos a narrativa mais antiga que temos na Bíblia sobre o pecado. Sabemos que Satanás caiu antes do homem, porquanto Satanás solicitou o homem ao pecado. "O pecado não foi uma criação mas uma origem: veio a existir pelo auxilio daquele que teve existência anterior, nomeadamente, personalidade e o poder de livre escolha. Deus não criou esse ser como o Diabo, mas como um anjo santo, o qual originou o pecado pela desobediência e se transformou no diabo ímpio que é hoje (Bancroft, Elemental Theology).
2. INTRODUZIU O PECADO NA FAMÍLIA HUMANA.
Gênesis 3:1-16. Há uma conexão íntima entre o que notamos de Isaias a respeito do diabo e o seu método de seduzir Eva. Satanás foi enxotado do céu porque disse: "Far-me-ei semelhante ao Altíssimo". Ele enganou Eva por dizer-lhe que, em vez de morrer como resultado de comer o fruto proibido, torna-se?ia ela "como Deus, conhecendo o bem e o mal".
3. POSSUI E CONTROLA O MUNDO
Jó 9:24; Mateus 4:8,9; João 12:31; 14:30; 16:11; 2 Coríntios 4:3,4; Efésios 6:12. Deus possui o mundo (Salmos 24:1), mas, como lemos em Jó 9:24, o mundo foi dado na mão de Satanás temporariamente e Satanás o domina, sujeito a tais limitações como Deus se apraz impor. Vide Salmos 76:10.
4. ACUSA O POVO DE Deus.
Jó 1:6-9; 2:3-5; Apocalipse 12:9,10. "Diabo" significa "acusador" ou "enganador".
5. TAMBÉM PROVA, ESCONDE, RESISTE E ESBOFETEIA.
Lucas 22:31; 1 Tessalonicenses 2:18; Zacarias 3:1; 2 Coríntios 12:7.
6. PROCURA OPOR-SE E ESCONDER A OBRA DE DEUS.
Mateus 13:39; Marcos 4:15; 2 Coríntios 11:14,15; 2 Tessalonicenses 2:9,10; Apocalipse 2:10; 3:9.
7. TENTA, ENLAÇA E GUIA OS HOMENS AO MAL.
1 Crônicas 21:1; Mateus 4:1-9; João 13:2,27; Atos 5:3.
8. CONTROLA E CEGA OS PERDIDOS.
João 8:44; 12:37-40; Atos 26:18; 2 Coríntios 4:4; 2 Timóteo 2:26. A cegueira em 2 Coríntios 4:4 e aquela em João 12:37-40 são o mesmo. Sua causa imediata é a depravação da natureza carnal. Diz-se que o diabo é o autor desta cegueira porque ela é o autor do pecado. Na derradeira passagem é atribuída a Deus porque é pela vontade permissiva de Deus que se concedeu ao diabo trazer o pecado ao mundo. Para mais extensa discussão desta cegueira vide o capítulo sobre a livre agencia do homem.
9. CAUSA ENFERMIDADES.
Lucas 13:16; Atos 10:38.
10. TEM O PODER DA MORTE.
Hebreus 2:14.
Mas, graças sejam dadas a Deus, toda a obra de Satanás está senhoreada pela onipotência e onisciência de Deus e é feita para operar ultimadamente para glória de Deus e para o bem dos santos. Vide Salmos 76:10; Romanos 8:31; 2 Coríntios 12:7; Efésios 1:11.
Na queda de Pedro temos um exemplo excelente de como Deus é glorificado e os santos beneficiados mesmo atravéz da tentação do diabo que atualmente produz o pecado nas vidas dos santos. A experiência de Pedro em negar a Cristo fê-lo homem diferente dele mesmo. No julgamento de Jesus ele Pedro acovardou-se ante uma criadinha, mas no Pentecostes ele topou a multidão dos crucificadores de Cristo com palavras ardentes de condenação. A queda de Pedro tirou-lhe a Fiúza em si mesmo. Assim, Satanás, buscando a completa ruína de Pedro, como ele teve a de Jó, peneirou a palha e deixou o trigo. Podemos ver também que as aflições de Satanás trouxeram no fim maiores bênçãos a Jó.
III. O DESTINO DE SATANAZ
A noção comum que Satanás está agora no inferno não é correta. O mesmo é verdade da idéia de Satanás ficar sempre no inferno como o que inflige tormento sobre outros. Ele habita agora nos ares (Efésios 6:11,12), tem acesso a Deus (Jó 1:6) e é ativo sobre a terra (Jó 1:7; 1 Pedro 5:8). Mas, finalmente, Satanás será lançado no inferno.
Já notamos que o inferno foi preparado para o diabo e seus anjos. Na passagem seguinte temos a relação de como ele será lançado no inferno:
"E o diabo que os enganou foi lançado no lago de fogo e enxofre, onde também estão a besta e o falso profeta; e serão atormentados dia e noite para todo o sempre" (Apocalipse 20:10).
Isto é para acontecer ao cabo do "pouco tempo", durante o qual é para Satanás ser solto outra vez após o milênio. Precedendo o milênio, a besta e o falso profeta serão lançados no lago de fogo (Apocalipse 19:20).

Autor: Thomas Paul Simmons, D.Th.

A Doutrina DA JUSTIFICAÇÃO


I. A JUSTIFICAÇÃO DEFINIDA

A justificação é aquele ato de Deus instantâneo, eterno, gracioso, livre e judicial, pelo qual, devido ao mérito do sangue e da justiça de Cristo, um pecador arrependido e crente é livrado da penalidade da Lei, restaurado ao favor de Deus e considerado como possuindo a justiça imputada de Jesus Cristo; em virtude de tudo de que recebe adoção como um filho.

II. O AUTOR DA JUSTIFICAÇÃO

Deus é o autor da justificação. O homem nada tem que ver com a sua justificação, salvo para recebê-la através da fé que o Espírito Santo o habilita a exercer. A Escritura declara: “É Deus que justifica” (Rom. 8:33). E outra vez lemos: “Sendo justificados livremente pela Sua (de Deus) graça por meio da redenção que está em Cristo Jesus” (Rom. 3:24).

De Cristo se pode dizer que nos justifica só no sentido que Ele pagou o preço da redenção.

III. A NATUREZA DA JUSTIFICAÇÃO

1. É INSTANTÂNEO

É um ato e não um processo. Ocorre e está completa no momento em que o indivíduo crê. Não admite graus ou fases. Do publicano se diz ter descido à sua casa justificado. Ele foi justificado completamente no momento em que colocou sua fé na obra propiciatória de Cristo. A justificação do crente está posta sempre em tempo passado. Em toda a Bíblia não há o mais leve vislumbre de um processo contínuo na Justificação.

2. É ETERNA

Quando alguém se justifica, justificado está por toda a eternidade. A justificação não pode jamais ser revogada ou revertida. É uma vez por todo o tempo e eternidade. Por essa razão Deus pergunta: “Quem lançará qualquer acusação contra os eleitos de Deus?” (Rom. 8:33). Cristo pagou inteiro resgate e fez completa satisfação por todos os crentes; doutra maneira Cristo teria de morrer outra vez, ou então o crente cairia em condenação pelos seus pecados futuros. Mas lemos que a oblação de Cristo se fez uma vez por todas (Heb. 10:10), e que o crente “não entrará em condenação, mas passou da morte para a vida” (João 5:24).

Tanto quanto a posição do crente está em foco, ele já passou o juízo. Foi julgado e absolvido completamente e eternamente. Que Paulo ensinou uma justificação eterna e imutável mostra-se no fato de ele sentir-se chamado a defender sua doutrina contra os ataques dos que contenderiam que ela dava licença ao pecado. Isto é a acusação que se faz hoje contra a doutrina que ora estabelecemos.

Finalmente lemos: “Por uma oblação Ele aperfeiçoou para sempre aos que se santificam” (Heb. 10:14). Verdade é que são os santificados que estão sob consideração nesta cita, mas é aplicável aos justificados também; porque, santificados e justificados são um. Se os santificados são aperfeiçoados para sempre, assim são os justificados. A perfeição aqui é a de estar diante de Deus.

3. É GRACIOSA E LIVRE

O pecador não merece nada às mãos de Deus, exceto condenação. Logo, a justificação é inteiramente de graça. Está assim estabelecido em toda à parte na Escritura, exceto por Tiago que empregou o significado secundário do termo. No sentido primário do termo a justificação nunca está representada como sendo através das obras ou obediências do homem. Vide Rom. 3:20; 4:2-6; Tito 3:5.

E, enquanto que a justificação é na base da obra meritória e expiatória de Cristo, contudo, da parte de Deus, é livre e espontânea, tanto quanto Deus não estava sob nenhuma obrigação de aceitar a Cristo como nosso substituto.

4. É SOMENTE JUDICIAL E DECLARATIVA

A justificação, no sentido primário, é um termo forense ou legal. É um ato do tribunal do céu. Não faz o crente internamente justo ou santo. Fá-lo justo apenas quanto à sua posição. Muitos confundem sem cessar justificação e santificação; mas não são a mesma coisa. Justificação é apresentada como o oposto de condenação, ao passo que santificação como o oposto de uma natureza pecaminosa. Vide Rom. 5:18.

IV. O FUNDAMENTO DA JUSTIFICAÇÃO

O fundamento da justificação é o sangue e a justiça de Jesus Cristo. A fé é um meio de justificação, mas não é o fundamento dela. Nada no homem é fundamento da justificação. Deus requer perfeição. O homem, por causa da depravação da carne, não pode render obediência perfeita até mesmo depois da regeneração. Daí a justificação deve achar seu fundamento fora do homem.

A justificação toma tanto o sangue como a justiça de Cristo para constituir o seu fundamento. O Seu sangue nos justifica negativamente ; Sua justiça, positivamente. Em outras palavras, o sangue paga a penalidade pelos nossos pecados e a justiça dá posição positiva perante Deus.

Não há contradição entre Tiago e Paulo quanto ao fundamento da justificação. Paulo simplesmente usou a palavra grega “dikaioo” no seu sentido primário, para significar fazer alguém legalmente justo, ao passo que Tiago a usou no seu sentido secundário, para significar como mostra e prova estar alguém justo ou tal como devera estar. O mesmo uso que Tiago faz do termo pode-se achar também em Mat. 11:9 e 1 Tim. 3:16. Paulo ensina que nos é dada uma posição justa diante de Deus pela fé; Tiago ensina que provamos nossa justificação pelas nossas obras.

Tanta necessidade há de reconciliar Tiago consigo mesmo como de reconciliar Tiago com Paulo; porque Tiago afirma que “Abraão creu em Deus e que isso lhe foi reconhecido como justiça” (Tiago 2:23). Vide Rom. 4:3.

V. O MEIO DE JUSTIFICAÇÃO

A fé em Cristo é o meio de justificação. Isto é, pela fé é que a justificação é aplicada ou feita experiencial. Ninguém se justifica senão os que crêem. A fé é logicamente anterior à justificação, ainda que não cronologicamente anterior. A justificação é através da fé porque a justificação é só uma de uma série de atos pelos quais Deus nos ajusta para Seu reino aqui e além. Sem fé a justificação se estragaria e não ajudaria a realizar o propósito de Deus em nós.

A fé não tem mérito em si ou de si mesma. Ela não é aceita em lugar da nossa obediência. Nem ela produz um rebaixamento do padrão de Deus, de modo que possamos ganhar favor com Deus pelas nossas obras.

VI. OS BENEFÍCIOS DA JUSTIFICAÇÃO

1. LIBERDADE DA PENALIDADE DA LEI

Em Rom. 10:4 lemos: “Cristo é o fim da Lei para justiça de todo àquele que crê”. E Gal. 3:13 diz: “Cristo nos remiu da maldição da Lei fazendo-se maldição por nós.” Isto quer dizer que, para o crente, a Lei não é mais um instrumento de condenação. Cristo arrancou-lhe as garras para o crente. O Monte Sinai ajuntou-se em tremenda fúria e atirou seus dardos de condenação contra Cristo sobre o madeiro. Ele recebeu esses dardos no Seu próprio corpo na cruz, consumiu sua força e robou-lhes o poder de condenarem o crente. Por essa razão o crente nunca entrará em condenação (João 5:24; Rom. 8:1). Cristo morreu como substituto do crente; daí o crente é para a Lei como um já morto.

2. RESTAURAÇÃO AO FAVOR DE DEUS

A justificação não só alforria meramente o homem da penalidade da Lei: fá-lo à vista de Deus como um que nunca quebrou a Lei. A justificação torna o crente tão inocente perante Deus em relação à sua posição como Adão foi antes de cair.

3. IMPUTAÇÃO DA JUSTIÇA DE CRISTO

As passagens seguintes ensinam que, na justificação, a justiça de Cristo nos é imputada ou reconhecida: Rom. 3:22, 4:3-6, 10:4; Fil. 3:9.

Estas passagens nos ensinam que o crente não só é inocente perante Deus, mas é considerado como possuindo a perfeita justiça de Cristo; logo, tanto quanto se considera a posição e o destino do crente, ele é reconhecido como sendo tão justo como Cristo. Sua posição perante Deus é a mesma como aquela de Cristo. Nesta conexão o imortal Bunyan escreveu: “O crente em Cristo está agora, pela graça, envolto sob uma justiça tão completa e abençoada que a Lei do Monte Sinai não pode achar nem falta nem diminuição nele. Isto é o que se chama a justiça de Deus pela fé.”

4. ADOÇÃO DE FILHOS

Lemos: “Deus enviou Seu Filho... para remir os que estavam debaixo da Lei, a fim de recebermos a adoção de filhos.” (Gal. 4:4,5). É na base desta redenção que somos justificados. A adoção é o topo da justificação. Cristo tomou nosso lugar; portanto, quando cremos nEle, tomamos Seu lugar como um filho. É assim que recebemos o direito de nos tornarmos filhos. Está em ordem a adoção para que sejamos “herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo” (Rom. 8:17), e para que tenhamos um direito legal à herança “incorruptível e impoluta, que não fenece, reservada no céu” para nós (1 Pedro 1:4). Quando fomos justificados, já éramos filhos do diabo. Não podíamos ser inascíturos como tais; daí tínhamos de ser transferidos da família do diabo para a de Deus por adoção. Tornamo-nos filhos experiencialmente pela regeneração, mas legalmente pela adoção. Regeneração e adoção não são as mesmas.

5. PAZ COM DEUS

Rom. 5:1. O crente tem paz com Deus por causa do conhecimento e através do conhecimento de todos os benefícios precedentes.

Um sumário: De maneira a ajudar o estudante a agarrar melhor o que temos dito, damos o seguinte sumário, o qual é adaptada da discussão de Bancroft sobre o método da justificação (Elemental Theology, pág. 206).

Somos justificados:

1. Judicialmente por Deus. Rom. 8:33

2. Causalmente pela graça. Rom. 3:24

3. Meritória e Manifestamente por Cristo.

(1). Meritoriamente pela Sua morte. Rom. 5:9

(2). Manifestamente pela Sua ressurreição.

Rom. 4:25. A ressurreição de Cristo manifestou o valor justificante de Sua morte.

4. Mediatamente pela Fé. Rom. 5:1.

5. Evidencialmente pelas Obras. Tiago 2:14-24.


O DIACONATO

I. A ORIGEM DO OFÍCIO
            É perfeitamente certo que temos a origem do diaconato no capítulo sexto de Atos. A palavra "servir" (diakoneo) em Atos 6:2 é exatamente a mesma que se usa para designar o ofício de diácono em 1 Tim. 3:10,13, que é o verbo correspondente para diáconos em Fil. 1:1; 1 Tim. 3:8,12.
            Interessante e instrutivo é notar como os primeiros diáconos receberam seu ofício. Foram eleitos pela Igreja. "Os doze convocaram a multidão dos discípulos e disseram: "não é justo que desamparemos a Palavra de Deus e sirvamos as mesas. Escolhei, pois, dentre vós, irmãos, sete varões de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria, a quem possais constituir sobre este negócio." (Atos 6:2,3).
            Os apóstolos investiram os diáconos do seu ofício, ou ordenou-os, como vemos no verso seis, sendo este o significado de "nomear" no verso três; mas os apóstolos não presumiram de os eleger: isto deixaram à igreja. Nem mesmo recomendaram à igreja os que ela devia escolher:  deixaram a igreja achar isto do Espírito Santo. Foi isto um assunto excepcionalmente importante, mas os apóstolos não se arreceiaram de o confiar à igreja. É isto um excelente exemplo da democracia das igrejas do Novo Testamento.
II. OS DEVERES DESTE OFÍCIO
            Os primeiros sete diáconos foram escolhidos e ordenados para "servirem às mesas", isto é, distribuir alimento aos necessitados , especialmente as viúvas. Mas do fato de o ofício tornar-se permanente (Fil. 1:1; 1 Tim. 3:8-13) e do fato de nenhuma outra igreja além da de Jerusalém, tanto quanto sabemos, ter a comunhão de bens que reclamava o estabelecimento original do ofício, tanto quanto as qualificações dadas em 1 Tim. 3:8-13, inferimos que as obrigações do ofício devem ter passado por expansão. Talvez os diáconos vieram a encarregar-se de todos os negócios seculares da igreja e a ser auxiliares do pastor nos assuntos espirituais.
            Com tudo, seja-o levado em mente que os diáconos são "servos", segundo o significado do título e não patrões. São para receberem instrução da igreja mais do que ditarem à igreja. São para ajudarem o pastor mais do que dizer-lhe o que deva fazer. Lembrem-se sempre que o ofício é subordinado ao do pastor.
            O abuso do ofício de diáconos os tem feito inúteis ou pior que inúteis em muitas igrejas. Talvez isto seja porque a devida atenção não tem sido dada às qualidades escrituristicas de diáconos, à qual dirigiremos agora nossa atenção.
III. AS QUALIFICAÇÕES DE DIACONOS
1. COMO DADAS EM ATOS 6
 (1). Homens de boa reputação
Os diáconos são para ser homens de boa reputação em geral. São para ser homens em quem o povo tenha a máxima confiança. Sem duvida, primeiro que tudo, seriam homens que são escrupulosamente honestos; homens que possam ser acreditados.
 (2). Cheios do Espírito
            O Espírito Santo está em todo crente (João 7:38,39; Rom. 8:9,14; 1 Cor. 6:19; Gal. 4:6; Efe. 1:13). Ele é recebido ao tempo em que somos salvos e depois habita conosco para sempre. Quando recebemos o Espírito Santo, recebemos tudo dEle, porque Ele é uma pessoa e, portanto, indivisível. A doutrina que o Espírito é recebido depois da conversão, como foi o caso com os crentes no dia de Pentecostes, não é uma doutrina escrituristica. Não pode haver mais uma repetição do Pentecostes do que haver uma repetição do Calvário. Todas as obras da graça são definidas e aqueles que ainda estão falando sobre a segunda devem ser lamentados. Os que estão verdadeiramente salvos receberam inumeráveis obras de graça definidas. Gente que não tem em si  o Espírito Santo habitando não precisa buscar a segunda benção; ainda não receberam a primeira.
            Ainda que gente salva tenha o Espírito nela, não estão todos cheios dEle. Ela tem tudo dEle, mas Ele não tem tudo dela. A necessidade não é que ela deve buscar o Espírito, mas que ela deve render-se ao Espírito já nela, de maneira que Ele a achará com Sua presença e poder. DEle é uma presença expansiva e Ele enche tanto de nós, e somente tanto de nós como não está cheio de algo mais. Se é para o Espírito encher-nos, devemos esvaziar-nos do eu e do mundo. É somente de homens que fizeram completa rendição ao Espírito que devemos fazer diáconos.
 (3). E de sabedoria
            Os diáconos são para ser homens de discernimento e perícia. A sabedoria aqui mencionada não é sabedoria humana, mas aquela que vem de cima (Tiago 1:5, 3:17). "Senso comum santificado" é perjúrio forense. Não há tal coisa. O senso comum é o pensar comum do homem. E o pensar comum do homem é o pensar da mente carnal. E a mente carnal é inimiga contra Deus (Rom. 8:7). Logo, alguém podia do mesmo modo falar sobre inimizade santificada contra Deus como falar de senso comum santificado. A estima de Deus pelo senso humano achar-se-á em Tia. 3:15. Muito dano resulta de se experimentar levar avante os negócios de Deus segundo a maneira dos negócios seculares. Tiago 1:5 fala como conseguir a sabedoria necessária e um diácono.
2. COMO DADA EM 1 TIMÓTEO 3
 (1). Grave
            Isto quer dizer que os diáconos são para ser dignificados, de mente séria e livres de leviandade e frivolidade. Não quer dizer que são para ser soturnos e caras compridas.
 (2). Não dúplices
            Isto quer dizer que os diáconos não são para ser homens que falem de um gentio a uma pessoa e doutro modo à outra. Os diáconos são para serem homens cuja palavra possa ser crida.
 (3). Não dados a muito vinho
            Nos tempos do Novo testamento as bebidas alcoólicas não foram abusadas como são hoje; portanto, não eram absolutamente proibidas. Só o abuso delas era proibido. Mas hoje elas têm sido sujeitas a um tal abuso que é bom a todos os crentes, especialmente pastores e diáconos, abster-se totalmente mesmo de vinho, exceto para fins médicos e sagrados.
 (4). Não cobiçoso de torpe ganância
            Um diácono não deve ser um homem que tenha amor regrado pelo dinheiro. Se ele for, ele provavelmente desviará fundos a ele confiados. Grande tem sido a vergonha trazida às igrejas por causa de homens gulosos de torpe ganância abonados com dinheiro da igreja.
 (5). Retendo o ministério de fé numa pura consciência
            Os diáconos deveriam ser sãos na fé. Não são ensinadores oficiais, mas terão muita necessidade de testemunho privado. Nada senão um batista ortodoxo devera ser eleito diácono. Quem crê que uma igreja é só tão boa como outra, ou um que pelo menos está gafado de modernismo ou arminianismo, ou um que nega qualquer verdade fundamental da Bíblia não está apto para ser diácono. O diácono é para sustentar a fé numa pura consciência - alguém que tenha sido purificado pelo sangue de Cristo e renovado pelo Espírito Santo. Semelhante consciência estará livre de vil egoísmo e hipocrisia e será regulado por devoção e sinceridade.
 (6). Sejam estes também primeiro provados
            Como com os bispos, assim com os diáconos ; sobre nenhum homem imporíamos mãos repentinas ou apressadamente (1 Tim. 5:22). E como um bispo, um diácono não deveria ser um noviço, ou um vindo de fresco à fé (1 Tim. 3:6). Não deveríamos eleger homens como diáconos só para honrá-los, nem por serem influentes ou ricos, mas somente quando se provaram na posse de qualificações escrituristicas.
 (7). Suas esposas devem ser graves, não aleivosas, sóbrias, fiéis em tudo.
            Contendem alguns que aqui são referidas diaconisas. E enquanto esta idéia pareça ter algumas coisas em seu favor, todavia a consideramos longe de ficar estabelecida. Notemos os argumentos costumeiros dados como prova que a referência aqui é a diaconisas: 
            A. Afirma-se que um tal oficio existiu em algumas igrejas do Novo Testamento ao menos, desde que Febe é chamada uma "diakonos" (Rom. 16:1).
            Mas "diakonos" aparece em muitos outros logares em que não se quer significar o ofício de diácono. Vide 2 Cor. 2:6, 11:22; Efe. 3:7, 6:21; Col. 1:7,23,25; 1 Tess. 3:2; 1 Tim. 4:6, onde "diáconos" está traduzido por "ministro". Esta palavra e suas formas cognatas aparecem em muitos outros logares semelhantes ao acima também. Em vista disto, temos certamente um fundamento muito leve para o ofício de uma diaconisa só porque "diáconos" está uma vez aplicado a uma mulher. É perfeitamente evidente que Febe, por sua energia e sua riqueza, fora uma "socorredora de muitos" e do apóstolo Paulo também (Rom. 16:1); portanto, ela foi chamada uma "diácono", ou uma que ministra a necessidade de outros. Não há prova de que ela serviu oficialmente nesta capacidade.
            B. Supõe-se também, que as mulheres mencionadas em Fil. 4:3 eram diaconisas.
            Mas aqui há menos evidência para o ofício do que no caso anterior. Não se dá aqui o mais leve indício que essas mulheres foram diaconisas. Houve algumas mulheres que assistiram a Cristo no Seu trabalho; maravilha se elas também foram diaconisas?
            C. Arque-se que um tal ofício existiu nas igrejas post - apostólicas.
            Mas muitas coisas existiram na maioria das igrejas post - apostólicas que não foram de instituição divina.
            D. Diz-se que o "grego não tem "suas esposas", mas simplesmente mulheres, sem artigo ou pronome, e é, portanto, devidamente vertido, não "suas esposas", mas mulheres e, neste contexto, diáconos femininas" (H. H. Harvey).
            Verdade é que o grego não diz expressamente "suas esposas", e, enquanto a palavra para "esposas" é uma palavra que signifique  simplesmente "mulheres",  contudo é a única palavra em o Novo Testamento para esposas, e é, portanto, a palavra que seria usada para denotar esposas. O pronome possessivo é facilmente entendido desde que diáconos estão sob discussão. Quanto à omissão do artigo, não é isso significante, pois não há artigo antes de diáconos no verso 8. E quando lemos no verso seguinte que o diácono é para ser marido de uma esposa, acrescenta força à idéia que as esposas de diáconos se intencionam no verso 11.
            E. Arque-se que não há razão para definirem-se as qualificações das esposas de diáconos enquanto que nada se diz das esposas de bispos.
            Não há razão para limitar "suas esposas" às esposas de diáconos. Cremos que se refere tanto às esposas de diáconos como também as de bispos. Semelhante interpretação nada tem a ver contra. E cremos que é correta.
 (8). Sejam os diáconos os maridos de uma esposa, governando bem seus próprios filhos e suas próprias casas.
            Um diácono deve ter uma só esposa viva. Deve ter seus filhos em sujeição. Uma das maiores necessidades práticas deste tempo é um revivamento da autoridade paterna dos velhos tempos. A autoridade frouxa, se autoridade de fato pode ser chamada, na média dos lares cristãos hoje, é uma vergonha e uma desgraça. Não admira que a geração mais jovem é conspícua pela sua ausência aos cultos na maioria dos logares. São criados a ter seu próprio caminho e não segundo seu próprio caminho ir a igreja. Muitos filhos hoje, na maior parte, obedecem quando lhes apraz. O diácono é para GOVERNAR seus filhos e não para deixar que seus filhos o governem. E o diácono é para ser o cabeça de sua casa, porque a Escritura não só especifica que é para ele governar seus filhos senão também toda a sua casa. O plano divino é para o marido ser o cabeça do lar. Quando o homem é um cristão, e isto é reconhecido, o lar será o mais feliz dos lares. Se o homem não é cristão e a mulher é, então terá ela de fazer o melhor que puder. Se ela era cristã quando casou com ele, ela violou a Palavra de Deus (2 Cor. 6:14), e deve fazer o melhor que puder do castigo que receberá. Tem-se dito e bem verdadeiramente, se uma mulher casa com um filho do diabo, ela pode esperar ter barulho com o seu sogro.
IV. A RECOMPENSA TEMPORAL DE UM DIACONO
            O verso 13 dá-nos a recompensa de um diácono. Se ele bem servir como um diácono, ele adquire um bom grau e grande ousadia na fé. O Novo Testamento retrata o diaconato  como um ofício exaltado, que tem sido muito degradado por causa de nossa falha em respeitar as qualificações exaradas na Escritura e por nossa alteração da obra de diáconos para assentar as nossas próprias noções.

O ESPÍRITO SANTO

"Há muita confusão e erro correntes neste dia a respeito da personalidade, operações e manifestações do Espírito Santo. Eruditos conscientes mas extraviados têm sustentado idéias errôneas sobre esta doutrina. É vital a fé de todo cristão que o ensino escriturístico dela seja visto na sua verdadeira luz e sustentada nas suas corretas proporções" (Bancroft, Elemental Theology).
I. A PERSONALIDADE DO ESPÍRITO SANTO
"Ao atribuir personalidade ao Espírito pensamos que Ele não é uma energia impessoal, uma abstração, uma influencia, ou emanação. Ele é uma inteligência auto-cônscia, autodeterminada, voluntária, sensiente. Pode-se dizer que a personalidade existe onde se encontrem unidas numa combinação singular inteligência, emoção a volição, ou senso comum e autodeterminação" (Bancroft, Elemental Theology).
Que o Espírito é uma pessoa, está provado:
1. A MENÇÃO DELE JUNTAMENTE COM OUTROS MEMBROS DA TRINDADE.
Mateus 28:19; 2 Coríntios 13:14
2. SUA ASSOCIAÇÃO COM OUTRAS PESSOAS EM PARENTESCO PESSOAL.
Atos 15:28
3. A ATRIBUIÇÃO A ELE DE EMOÇÃO E VOLIÇÃO.
1 Coríntios 12:11; Efésios 4:30
4. ATRIBUIÇÃO A ELE DE ATOS PESSOAIS.
(1) Ele sonda as coisas profundas de Deus.
1 Coríntios 2:10
(2) Ele fala.
Mat 10:20; Atos 10:19,20; 13:2; Apocalipse 2:7. Vide também passagens sob a inspiração em que se diz que o Espírito falou pelos profetas e outros escritores da Escritura.
(3) Ele ensina.
Lucas 12:12; João 14:26; 1 Coríntios 2:13
(4) Ele conduz e guia.
João 16:13; Romanos 8:14
(5) Ele intercede.
Romanos 8:26
(6) Ele dispensa dons.
1 Coríntios 12:7-11
(7) Ele chama homens para o serviço.
Atos 13:2; 20:28
5. A REPRESENTAÇÃO DELE COMO SENDO AFETADO COMO UMA PESSOA PELOS ATOS DE OUTREM.
(1) Ele pode ser rebelado contra, incomodado e entristecido.
Isaías 63:10; Efésios 4:30
(2) Ele pode ser blasfemado.
Mateus 12:31
(3) Ele pode ser mentido (enganado).
Atos 5:3
6. O USO DO PRONOME MASCULINO EM REFERENCIA A ELE.
Em João 16:13, só o pronome masculino se aplica ao Espírito sete vezes. É isto muito significativo desde que a palavra grega correspondente a "espírito" (pneuma) é neutra. Vemos assim que a idéia da personalidade do Espírito é tão forte que na passagem supra ela tem precedência sobre a ordem gramatical. Em Romanos 8:16,26, numa construção mais próxima, prevalece a ordem gramatical, mas isto não anula a significação de na outra passagem arredar-se a ordem gramatical.
7. A APLICAÇÃO DO NOME MASCULINO "PARAKLETOS" AO ESPÍRITO.
"O nome "parakletos"... não pode ... ser traduzido por "conforto", ou ser tomado como nome de qualquer influencia abstrata. O Confortador, Instrutor, Protetor, Guia, Advogado, que este termo traz perante nós, deve ser uma pessoa" (Strong, Systematic Theology).
"Parakletos" é a palavra grega para "Consolador" em João 14:26; 15:26; 16:7.
II. A RELAÇÃO DE PENTECOSTES COM O ESPÍRITO SANTO
1. ESPÍRITO SANTO JÁ EXISTIA ANTES DO PENTECOSTES.
Gênesis 1:2; Neemias 9:20; Salmos 51:11; Isaías 63:10; 2 Pedro 1:21. Temos visto que o Espírito Santo, como um membro da Trindade, é co-eterno com o Pai.
2. ELE TEVE ACESSO À TERRA E OPEROU NO HOMEM ANTES DO PENTECOSTES.
Vide todas as passagens imediatamente antes que seguem a primeira passagem.
3. ELE VEIO NO DIA DE PENTECOSTES NUMA CAPACIDADE ESPECIAL.
Isto explica os significados da promessa de Cristo de mandar o Espírito. Esta capacidade especial foi:
(1) Talvez como o antítipo da Shequína.
Números 9:15-22; 2 Crônicas 7:1-3. A Shequína, no caso de tabernáculo, foi para liderança e, no caso do templo foi um símbolo de propriedade e possessão. A vinda do Espírito Santo no Pentecostes significou ambas as coisas à igreja.
(2) Em cumprimento de profecia e promessa.
Joel 2:28; Mateus 3:11. Não sustentamos, todavia, que o dia de Pentecostes marcou o cumprimento completo e ultimado da profecia de Joel. Este dia viu somente um cumprimento parcial e espiritual dessa profecia. Efetivamente, as palavras de Pedro precisam ser entendidas como significando não mais além que a coisa ora testemunhada nesse dia era a mesma em espécie como aquela da qual Joel predissera. O cumprimento literal, ultimado e completo de Joel 2:28-32 virá com a conversão da nação judaica na segunda vinda de Cristo. Vide Zacarias 12:9-11; 13:8,9; Romanos 11:26.
(3) Autorizar a igreja.
Atos 1:4,8
(4) Como o consolador residente e mestre dos crentes.
João 14:16,17; 1 João 2:20,27. Antes do Pentecostes, como indicado supra, o Espírito Santo teve acesso à terra, mas Ele veio e foi; não morou nos crentes constantemente. Durante a dispensação do Velho Testamento o Espírito Santo veio até mesmo sobre ímpios, tais como Balaão e o rei Saul. E Ele inspirou os escritores da Escritura. Também regenerou homens; mas uma união inseparável entre a alma do crente e o Espírito Santo não se formou então como acontece agora sob a presente dispensação. É a esta união indissolúvel entre a alma do crente e o Espírito Santo que o escritor aos Hebreus se refere quando ele fala de escrever a Lei de Deus no coração do crente. Vide Hebreus 8:10. O fato de o Espírito Santo não morar constante e inseparavelmente nos crentes antes do Pentecostes explica porque Davi orou: "Não tires o Teu Espírito Santo de mim" (Salmos 51:11). O pecado podia então afugentá-lo do peito, porquanto o Seu presente era transiente. Mas, não assim agora, como mais tarde veremos mais claramente; e essa oração é totalmente inadequada ao crente nesta dispensação.
(5) Para convencer o mundo do pecado, da justiça e do juízo.
João 16:8-11. Sustentamos esta passagem como se referindo primariamente a uma obra indireta do Espírito, porque a diferença entre a obra direta e indireta do Espírito é para se ver mais tarde sob o exame do Seu trabalho nos perdidos.
4. SUA VINDA NO PENTECOSTES FOI DISPENSACIONAL E FINAL.
Não há absolutamente nada que justifique a crença que o Pentecostes é para repetir-se na experiência de cada crente. Ele veio em cumprimento de profecia e promessa definitas e particulares, marcou o princípio de uma dispensação especial do Espírito. O pentecostalismo é disparate dos mais absurdos. Podia alguém com a mesma razão falar de uma repetição da ressurreição e ascensão de Cristo como de uma repetição do Pentecostes, que nunca se repetiu e nunca se repetirá. A ocorrência na casa de Cornélio foi meramente suplementada ao Pentecostes (Atos 10:44-47) e aconteceu para que Pedro pudesse saber que os crentes gentios foram recebidos por Deus no mesmo nível como os crentes judeus.
5. DESDE O PENTECOSTES O ESPÍRITO SANTO ENTRA EM TODO O CRENTE NA CONVERSÃO E JAMAIS PARTE.
João 7:38,39; Atos 10:1; Romanos 8:9; Gálatas 3:2; 4:6; Efésios 1:13; 4:30; Judas 19. É loucura o crente orar pelo Espírito Santo, ainda que possa orar pelo Seu poder e plenitude. Tão pouco precisa o crente orar para que Deus não lhe tire o Espírito Santo; porque, ainda que o crente possa entristecer e apagar o Espírito (1 Tessalonicenses 5:19) ! recusar Seus impulsos, o crente, não obstante, está permanentemente selado pela presença do Espírito (Efésios 1:13; 4:30).
6. O CRENTE, PORTANTO, NÃO DEVERÁ BUSCAR NEM A PRESENÇA NEM O BATISMO DO ESPÍRITO, MAS SUA PLENITUDE.
Efésios 5:18. Mostramos que cada crente tem o Espírito. Agora só resta ser observado que não há na Escritura garantia para afirmar-se um batismo do Espírito hoje tanto na regeneração como depois dela. A Escritura está calada sobre a noção de um batismo do Espírito para este tempo. A passagem costumeiramente referida para substanciar um batismo do Espírito na regeneração refere-se ao batismo na água. Vide seu exame sob batismo na água.
O crente tem tudo do Espírito Santo, mas o Espírito comumente não tem tudo do crente. Sua presença é expansiva: Ele enche tanto do crente do que estiver vazio de egoísmo e pecado. Assim, a exortação para encher-se do Espírito é uma exortação de completa rendição a Ele. Quanto mais Ele nos enche, maior será a manifestação do Seu poder em nossas vidas (Atos 6:3-5; 11:24).
III. A OBRA DO ESPÍRITO SANTO
1. SUA OBRA EM GERAL.
(1) Ele foi o agente de Deus na criação.
Gênesis 1:2
(2) Ele inspirou os escritores da Escritura.
2 Pedro 1:21. Vide outras passagens sob a discussão da inspiração verbal.
(3) Ele é, em geral, o agente de Deus em todas as obras de Deus.
Jó 33:4; Salmos 104:29,30; Isaías 40:7; Lucas 1:35; Atos 10:38.
2. SUA OBRA NOS PERDIDOS.
(1) Sua obra indireta nos perdidos.
Por obra indireta do Espírito nos perdidos queremos dizer tal obra como a que Ele executa mediatamente através da Palavra e não imediatamente por impacto pessoal sobre a alma. Qualquer obra produzida pela Palavra é uma obra do Espírito, porquanto Ele é o autor da Palavra. Está isto provado em Atos 7:51,52, onde resistência à palavra falada pelos profetas é dita como resistindo ao Espírito Santo.
Na obra indireta do Espírito nos perdidos Ele:
A. Luta com Eles.
Gênesis 6:3. Esta luta se faz por meio de homens, tais como Enoque e Noé, na pregação da Palavra.
B. Ele os convence do pecado, da justiça e do juízo.
João 16:8-11. A presença e as operações do Espírito no mundo, como um que veio tomar o lugar e levar adiante a obra de um rejeitado e crucificado Cristo, constitue um convencimento potencial do pecado. Tivesse Cristo sido um impostor, Sua promessa do Espírito não se teria cumprido. É como se a alma (espírito) de um homem voltasse a rondar seus assassinos e prosseguir a obra que eles tão vãmente tentaram acabar. Tal tenderia a convencer os assassinos de sua culpa e testemunhar da justiça do homem que mataram. Assim é com o Espírito Santo: O Espírito de Cristo (Romanos 8:9; Gálatas 4:6). E assim é que o Espírito Santo dá prova da justiça de Cristo, por manifestar que Ele foi para o Pai e por manifestar que Ele assim se vê ter triunfado sobre Satanás, o qual buscou por todos os meios impedir o propósito de Deus por meio de Cristo. Por este meio Ele convence os homens do pecado de rejeitarem a Cristo e da certeza do juízo a todos que permanecem ligados ao Diabo, porque Satanás já está julgado (João 12:31). "Este juízo de Satanás foi alcançado na Cruz e Satanás foi feito potencialmente impotente" (Bancroft).
Note-se que o Espírito Santo, na Sua obra de convencer ou convicção, "convicta, não primariamente do pecado de transgressão, mas do pecado de incredulidade, !do pecado, porque não crêem em mim?. Atos 2:36-37. Como todo pecado tem sua raiz na incredulidade, assim a forma mais agravada de incredulidade é a rejeição de Cristo. O Espírito, contudo, ao prender esta verdade sobre a consciência, não extingue, mas, pelo contrário, consuma e intensifica o senso de todos os demais pecados." (Bancroft, Elemental Theology).
Chamamos especial atenção para esta última sentença acima. Muitos entenderiam que a incredulidade é o único pecado danoso. Muitos mesmo diriam que isto é tudo por que os homens sofrerão no inferno. Semelhante noção está abundantemente contraditada pela Bíblia. Vide Romanos 2:5,6; 7:7-11; Gálatas 3:10,24; 1 João 3:4; Apocalipse 20:12. O Espírito não convence meramente do pecado de incredulidade, mas do pecado por causa da incredulidade. Isto é, Ele mostra aos homens sua condição pecaminosa por fazê-los ver que estão rejeitando ao Cristo de Deus, mostrando assim rebelião contra Deus. A incredulidade é o principal sintoma da doença do pecado, cuja essência é a anarquia.
A obra indireta do Espírito não só pode ser resistida, mas é resistida constantemente pelos pecadores. Os pecadores nada mais fazem que resistir ao Espírito até que o Espírito, por impacto direto e pessoal sobre a alma, vivifica o pecador cadáver á vista. Isto, como já indicado, explica Atos 7:51,52.
(2). Sua obra direta nos perdidos.
Referimo-nos aqui à regeneração. A regeneração é instantânea. Não pode ser doutra maneira, por não ser possível um homem estar em parte vivo e em parte morto sob um ponto de vista espiritual. É por essa razão que colocamos a convicção antes da regeneração. Os pecadores evidenciam vários graus de convicção através de períodos de extensão variável. É só no momento de regeneração, sem duvida, que a convicção alcança a intensidade mais elevada. A obra indireta do Espírito na convicção é trazida a cumprimento instantâneo no momento em que a alma cadáver é vivificada à vida. Mas a convicção existe antes da vivificação. Vide Paulo na sua experiência, Atos 26:14. Vide também e compare Atos 2:37. Notai que na parábola dos ossos secos no vale (Ezequiel 37:1-10) houve um efeito produzido pela pregação antes de Espírito (simbolizado pelo fôlego) vir sobre eles. Isto ilustra a obra indireta do Espírito na convicção antes da vivificação.
A obra direta do Espírito na regeneração é irresistível. Não quer isto dizer que o Espírito viole a vontade: Ele simplesmente opera posto-vontade. A regeneração tem lugar na "região da alma sob senso comum" (Strong). É o meio pelo qual nossas vontades se conformam à de Deus rigorosamente segundo as leis da vontade e sua ação. Vide o capítulo sobre a livre agencia do homem. A regeneração é irresistível porque é uma obra de Deus e não depende da vontade de homens (João 1:12,13). É na regeneração que Deus habilita os homens a virem a Cristo (João 6:65). É assim que ele entrega os seus eleitos a Cristo (João 6:37). A regeneração é a atração a que se refere em João 6:44,45, na sua consumação. O homem nada pode fazer agradável a Deus enquanto estiver espiritualmente morto, estando na carne (Romanos 8:7,8). Mas, quando vivificado à vida, ele está certo de agir em harmonia geral com a vontade de Deus (1 João 5:4; 3:9). Assim a regeneração é necessariamente irresistível.
3. SUA OBRA NOS SALVOS.
Já vimos que o Espírito habita em todo o crente. Esta moradia é para a realização de uma obra nos crentes. A obra consiste de:
(1) Dar garantia de salvação.
Romanos 8:16; 2 Coríntios 1:22; Efésios 1:14. O Espírito não só testemunha aos crentes da filiação atual, mas da garantia de salvação final. É neste ultimo sentido que a obra do Espírito é um "penhor", que quer dizer "hipoteca, uma parte do preço de compra adiantada como garantia de que a transação será completada". A presença do Espírito em nossos corações proporciona-nos uma prelibação do céu e é uma garantia de recebermos a herança "incorruptível e impoluta, que não fenece, reservada no céu" para nos "que somos guardados pelo poder de Deus para a salvação, já prestes para se revelar no ultimo tempo" (1 Pedro 1:4,5).
(2) Confortando, ensinando e iluminando.
João 16:7; 1 Coríntios 2:9-12; Efésios 1:17; 1 João 2:20,27.
(3) Liderando em obediência e serviço.
Romanos 8:14; Gálatas 5:16; Atos 8:27,28.
(4) Chamando para serviço especial.
Atos 13:2,4. "O Espírito Santo não só dirige o teor geral da vida cristã, mas chama homens para trabalhos especiais, tais como missões, o ministério, ensino, etc."
"Esta passagem não nos conta como o Espírito chama homens, presumivelmente porque Ele não chama sempre homens do mesmo modo. Cabe-nos a nós estarmos prontos a ser chamado, desejá-lo e então esperar que o Espírito Santo nos chame. Ele não chama a todos para o trabalho missionário estrangeiro, ainda que todo cristão devera estar pronto a responder a esse chamado. Ele chama, contudo, todo cristão para algum campo de serviço e o conduzirá, se ceder, a esse campo especifico" (Bancroft).
(5) Distribuindo dons espirituais.
1 Coríntios 12:4-11. Notai que "a manifestação do Espírito é dada a todo o homem (Isto é, todo o homem salvo) para o que for útil" (1 Coríntios 12:7). Nenhum homem salvo pode dizer verdadeiramente, portanto, que está falto de habilidade espiritual no serviço do Senhor.
(6) Fortificando no serviço.
Atos 1:8; 1 Coríntios 2:4; 1 Tessalonicenses 1:5.
(7) Fazendo frutífero.
Gálatas 5:22-25.
(8) Ditando oração e intercedendo.
Romanos 8:26,27; Gálatas 4:6.
(9) Movendo a adorar.
Filipenses 3:3. Foi dito: "Em nossas orações somos tomados com as nossas necessidades, em nossas ações de graça somos tomados com as nossas bênçãos, mas em nossa adoração somos tomados com Deus mesmo".
(10) Finalmente, vivificando o corpo do crente.
Romanos 8:11-23.

O NOVO NASCIMENTO

A última coisa considerada no capítulo anterior é a chamada interna. Esta chamada comunica-se aos homens em o novo nascimento. De modo que somos trazidos, logicamente, a um estudo do novo nascimento ou regeneração.

I. A NECESSIDADE DO NOVO NASCIMENTO

1. O FATO DE SUA NECESSIDADE

Jesus não deixou dúvidas quanto a indispensável necessidade do novo nascimento como um pré-requisito à entrada no Reino de Deus quando Ele disse a Nicodemos: “Aquele que não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus.” (João 3:5).

2. RAZÕES DE SUA NECESSIDADE

O novo nascimento é necessário porque:

(1). As bênçãos espirituais de Deus são somente para os filhos espirituais.

Rom. 8:16,17. O Homem, por natureza, não é um filho espiritual de Deus, ainda que o seja naturalmente. Adão é chamado “o filho de Deus” (Lc. 3:28). Esta filiação baseou-se, não no nascimento, nem na mera criação, mas na semelhança de Deus herdada pelo homem. Essa imagem era dupla: Adão tinha uma parecença moral e espiritual com Deus na santidade. Tinha uma parecença natural com Deus na personalidade. Para discussão mais ampla dessas semelhanças vide o capítulo sobre “O Estado Original e Queda do Homem”. Quando o homem caiu, ele perdeu a parecença moral e espiritual com Deus e assim cessou de ser um filho espiritual de Deus. Mas ele não perdeu sua personalidade, não caiu ao nível de um bruto e assim reteve uma base natural de filiação. Isto explica Atos 17:28-9.

Espiritualmente e moralmente o homem é um filho do diabo (João 8:44; e I João 3:10), porque traz a semelhança espiritual e moral do diabo. Assim ele deve nascer de novo para herdar as bênçãos espirituais de Deus, porque estas, como Rom. 8:16,17 mostra claramente, não são para ninguém exceto Seus filhos espirituais.

(2). O homem está espiritualmente morto e o reino de Deus, tanto aqui como além, é por natureza espiritual.

Rom. 5:12; Efe. 2:1; Col. 2:13; I João 3:14. A afirmação que o homem está espiritualmente morto quer dizer, por causa do pecado, que o homem está espiritualmente privado de vida espiritual divina; contudo, ele tem vida espiritual natural. O seu espírito perdeu toda afinidade real com Deus. Ele não tem afeto por Deus ou pelas coisas espirituais (Rom. 8:7,8). Ele não tem habilidade para as coisas espirituais (Jer. 13:23; João 6:65).

Portanto, nada há em a natureza do homem que o qualifique para a cidadania num reino espiritual. O que estiver espiritualmente morto não pode habitar um reino espiritual mais do que estiver fisicamente morto habitar um reino físico. Assim, deve o homem nascer de novo para poder entrar no reino de Deus.
(3). Estar no reino de Deus implica submissão à Lei de Deus e o homem por natureza está em inimizade com Deus.

Rom. 8:7,8. O reino de Deus é a Sua Lei nos corações de Seus santos; logo, entrar no Seu reino, é submeter-se à Sua Lei. Mas o homem, por natureza, não pode fazer isso porque ele está em inimizade contra Deus. É necessário o novo nascimento para que esta inimizade seja dominada.

II. A NATUREZA DO NOVO NASCIMENTO

1. CONSIDERADA NEGATIVAMENTE

(1). Não é uma erradicação da velha natureza

O novo nascimento pode-se chamar uma mudança de coração no sentido de uma mudança da disposição regente (incluindo os afetos bem como a vontade), mas o novo coração não desarraiga o velho. O velho, ou a natureza carnal, fica. Vide Rom. 7:14-25; Gal. 5:17. O novo coração ou natureza é colocado lado a lado do velho e o santo tem duas naturezas, como indicadas nas passagens pré-citadas. O novo nascimento deixa a velha natureza inalterada.

(2). Não é uma simples aquisição de religião

O homem é naturalmente religioso. Notai os atenienses pagãos em Atos 17. Recordai também as várias religiões e formas de culto nas terras gentias de hoje. Pouco importa quão religioso um homem se torne, sem o novo nascimento ele permanece essencialmente pecaminoso. Lemos num tratado metodista: “Cremos que alguém “adquira religião”, perca-a e fique eternamente perdido.” Escrevemos a margem: “Passar-vos-ei um melhor que esse: creio que um homem adquira religião, guarde-a e vá para o inferno, levando-a consigo.”

(3). Não é reforma humana

A reforma humana é superficial, deixando a natureza inteira essencialmente a mesma. Por essa razão a reforma humana provavelmente não dura. O novo nascimento será seguido de reformas, mas é reforma que provém de uma mudança fundamental na disposição regente e não a que se funda numa simples resolução da mente. A reforma humana nunca pode purgar da alma o pecado e implantar uma nova disposição. 2 Pedro 2:20-22.

(4). Não é adoção

Adoção é um termo legal. É o resultado imediato de justificação. Não é o mesmo que regeneração. Adoção faz-nos filhos de Deus legalmente, ao passo que a regeneração nos faz filhos de Deus experimentalmente. A adoção traz mera mudança de parentesco legal. A regeneração muda nossa natureza. A adoção tem de ver conosco como os filhos espirituais e morais do diabo por natureza. A regeneração tem de ver conosco como aqueles que por natureza estão privados de vida espiritual.

2. CONSIDERADA POSITIVAMENTE

A regeneração é aquele ato instantâneo de Deus na região da alma abaixo do senso íntimo pelo qual se remove toda a nódoa da alma, e pela qual, através da instrumentalidade da verdade, o exercício inicial da disposição santa assim comunicada se efetua. Na regeneração há também formada uma união inseparável entre a alma regenerada e o Espírito Santo.

Da descrição supra de regeneração notemos que:

(1). É um ato de Deus

O homem não pode dar nascimento a si mesmo. João atribui claramente a regeneração a Deus quando, ao falar de nascermos outra vez, diz: “Não do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do varão, mas de Deus” (João 1:13). Esta passagem nos diz que a nova natureza não é hereditária; que ela não provém da vontade da velha natureza (carne); e que não se realiza pela vontade de homem algum, mas é operada por Deus. Na regeneração não temos um homem trabalhando por si mesmo ou por algum outro homem, mas um homem trabalhado por Deus. Daí podemos amplificar a afirmação que encabeça este parágrafo e dizer que a regeneração é um ato soberano de Deus. João 3:8. Na sua fase inicial (vivificação) a regeneração é incondicional. Por ato algum de si mesmo o homem dispõe Deus a regenerá-lo .

(2). É um ato instantâneo

Diz A. H. Strong: “A regeneração não é uma obra gradual. Conquanto possa haver uma obra gradual da providência de Deus e do Espírito, preparando a mudança, e um reconhecimento gradual dela depois que ocorre, deve haver um instante de tempo em que, sob a influência do Espírito de Deus, a disposição da alma, logo antes hostil a Deus, muda-se para amar. Qualquer outra idéia assume um estado intermediário de indecisões que não tem nenhum caráter moral que seja e confunde a regeneração quer como a convicção quer com a santificação.” (System Theology, pág. 458).

A regeneração consiste de gerar e produzir , uma vivificação e um nascimento. E, por causa disso, alguns tem tentado explicar uma tal analogia entre os nascimentos físico e espiritual como interporia um lapso de tempo entre gerar e nascer; mas a separação quanto ao tempo entre gerar e nascer no reino físico é ocasionada por condições que são peculiares ao referido reino. Nenhumas condições tais prevalecem no reino espiritual.

Toda passagem da Escritura conduzindo ao novo nascimento implica que ele é instantâneo.

(3). Ele remove da alma toda a nódoa de pecado

Por natureza a alma do homem é pecaminosa, evidenciado pelo fato que a alma, quando separada do corpo, vai imediatamente ao tormento do fogo (Lc. 16:23). Se a alma dos incrédulos não fosse pecaminosa tanto quanto o corpo, não seria justo a alma sofrer no inferno. Mas que a alma da pessoa regenerada não é pecaminosa está evidenciado pelo fato que tal alma quando separada do corpo na morte, vai imediatamente à presença de Jesus, onde certamente nenhum pecado será permitido entrar. É-nos dito em 1 Pedro 1:22 que a fé purifica a alma.

E, a modo de mais extensa confirmação do precedente, notamos que, em descrever as duas naturezas dos crentes, a Escritura representa a velha natureza como corpo e carne, enquanto que a nova natureza é chamada mente ou espírito. O pecado no crente existe nas luxurias físicas e apetites, não na alma (espírito) ou parte imaterial do homem.

(4). Por meio desta purificação da alma os crentes se tornam “participantes da natureza divina” (2 Pedro 1:4)

Assim a imagem espiritual de Deus se restaura na alma dos crentes. A nova disposição santa assim instilada é a nova natureza ou novo homem... criado em justiça e verdadeira santidade (Efe. 4:24).

(5). O novo nascimento não está completo até que o arrependimento e a fé tenham sido operados na alma.

É a estes que nos referimos quando falamos acima de “o exercício inicial da santa disposição”, cujo exercício é efetuado pela regeneração. O arrependimento e a fé deveriam ser considerados como uma parte da regeneração mais do que como frutos dela. A alma não se renova enquanto ela permanece na impenitência e na incredulidade. Estas atitudes do coração expostas na regeneração. Isto se confirma pelo fato que a verdade é usada instrumentalmente na regeneração. Se a regeneração não consistisse da operação do arrependimento e da fé no coração, não haveria necessidade da instrumentalidade da palavra.

(6). O homem não é totalmente passivo na regeneração

Ele é passivo na vivificação, ou na comunicação inicial da vida. É passivo na mudança da disposição regente ou na remoção de toda a nódoa da alma. Mas no exercício inicial da santa disposição comunicada na regeneração o homem é ativo.

(7). Na regeneração forma-se uma união inseparável entre a alma regenerada e o Espírito Santo.

Rom. 8:26; Efe. 1:13,14. Esta união é tão íntima e completa que os santos gemidos do santo são os gemidos do Espírito Santo, por meio dos quais Ele faz intercessão pelo santo. É por meio desta união entre alma regenerada e o Espírito Santo que temos união moral e espiritual com Cristo (Rom. 7:2-4).

É em respeito a esta união do Espírito Santo com o espírito regenerado do homem que temos a diferença entre a regeneração no Velho Testamento e a regeneração no Novo. A do Velho era exatamente a mesma como a do Novo, exceto por isto:

III. COMO SE CUMPRE O NOVO NASCIMENTO

1. CONSIDERADO NEGATIVAMENTE

(1). Não por educação ou cultura

A educação e a cultura não podem tirar do homem aquilo que não esteja nele. Daí, desde que o homem é essencialmente pecaminoso e totalmente depravado, a educação e a cultura não podem nunca produzir aquela santa disposição regente que é operada na regeneração.

(2). Não por batismo

Que o batismo não é instrumental em o novo nascimento, está provado pelos seguintes fatos:

A. Não há nenhum meio concebível por que o batismo possa remover o pecado da alma ou comunicar uma santa disposição regente.

Os meios físicos não podem nunca operar uma mudança espiritual. A idéia de regeneração batismal “é parte e parcela de um esquema geral mais de salvação mecânica do que moral, mais coerente com uma filosofia materialística que espiritual.” (Strong).

B. Pedro afirma que o batismo não é o despojo da imundícia da carne senão a resposta de uma boa consciência para com Deus (I Pedro 3:21).

Uma boa consciência é a que foi purificada pelo sangue de Cristo (Heb. 9:14). Até que assim se purifica a consciência é má (Heb. 10:22). E quando alguém for purificado, não há mais consciência de pecados (Heb. 10:2). Daí um que tem uma boa consciência nunca fará nada para poder salvar-se, porque não tem consciência de pecados nenhum sentimento de necessidade de salvação. Tudo isto prova que alguém está salvo antes do batismo e não por meio do batismo.

C. As palavras de Jesus em Mat. 3:15 implicam que o batismo é uma obra de justiça e Paulo diz que não somente somos salvos pelas obras de justiça (Tito 3:15).

D. A fé deve preceder o batismo (Atos 2:41, 8:37, 19:1-5), e quando a fé é exercitada, já se está salvo (João 3:18; 5:24; I João 5:1,12).

E. Quando a fé foi exercida, a regeneração está completa; logo, o batismo que segue a fé não pode ser instrumental na regeneração.

A fé é operada no coração, como já foi mostrada e mais claro ainda se fará no capítulo sobre conversão.

F. O Ladrão na cruz foi salvo sem batismo.

A suposição que este ladrão deve ter tido o batismo de João antes de sua crucificação não tem base. Tal batismo não teria sido melhor do que o batismo recebido pelos doze em Éfeso, porque teria sido, como o dos doze, sem fé em Cristo, portanto não válida. O esforço para estabelecer que as palavras de Cristo ao ladrão formaram uma pergunta em vez de uma declaração é absurdo e sem o mais leve pretexto no grego. Que o paraíso é o céu, a presença imediata de Deus, está evidente de Apoc. 2:7 e 22:1,2.

Tomamos “água” em João 3:5 como um símbolo da Palavra de Deus na base dos seguintes fatos escrituristicos:

(a). A regeneração é uma lavagem (Tito 3:5) e é pela Palavra (Tiago 1:18; I Pedro 1:23).

(b). A purificação operada pela Palavra é como a “lavagem da água” Efe. 5:26.

Que é mais natural então do que “água” em João 3:5 representando o efeito purificador da Palavra na regeneração?

Alguns interpretam água em João 3:5 para referir-se ao nascimento natural. Uma interpretação tal é forçada e desnatural. Em nenhuma parte da Bíblia se fala do nascimento natural como um nascimento da água. E não havia necessidade de se dizer a um homem que ele tinha de nascer naturalmente para poder entrar no reino de Deus. A construção da frase também favorece a idéia que um só batismo é aqui referido. A preposição “de” ocorre antes de água só no grego.

2. CONSIDERADA POSITIVAMENTE

A regeneração é operada:

(1). Pelo Espírito Santo

João 3:5 nos diz que o novo nascimento é pelo Espírito Santo. Há dois sérios erros em referência à obra do Espírito Santo na regeneração. Um é que Ele opera (pelo menos em alguns casos) inteiramente independente e à parte da Palavra escrita de Deus. Isto é sustentado pelos Cascaduras. Conseqüentemente, eles crêem que os homens podem salvar-se sem o conhecimento da Palavra de Deus escrita. As passagens que atribuem à Palavra de Deus num lugar na regeneração, que são notadas sob a próxima epígrafe, refutam esta noção. O outro erro a que aqui nos referimos é o ensino que o Espírito na regeneração não age imediatamente sobre a alma, mas somente imediatamente por meio da Palavra. Isto é o ensino dos campbelistas. “As asserções escrituristicas da morada do Espírito Santo e do Seu imenso poder na alma proíbem-nos considerar o divino espírito na regeneração como vindo em contato, não com a alma, mas somente com a verdade. Desde que a verdade é só o que é, simplesmente, não pode haver mudança operada na verdade. As frases “energizar a verdade”, “intensificar a verdade”, “iluminar a verdade”, não tem sentido próprio, uma vez que Deus não pode fazer a verdade mais verdadeira. Se se opera alguma mudança, ela deve ser operada não na verdade senão na alma.” (Strong, Systematic Theology, pág. 453).

A depravação e inabilidade por natureza de receber a verdade e virar-se do pecado para Cristo e para a justiça (Jeremias 13:23; João 6:65; 1 Cor. 2:14) também mostram a necessidade absoluta do impacto imediato e da operação do Espírito Santo sobre a alma na regeneração. “O mero aumento de luz não fará que o cego veja; a doença do olho deve primeiro ser curada para que o cego veja objetos externos. Assim a obra de Deus na regeneração deve ser executada dentro da alma mesma. Sobre a cima de toda a influência da verdade deve estar a influência direta do Espírito Santo sobre o coração.” (ibid).

(2). Usando a instrumentalidade da palavra

A instrumentalidade da Palavra na regeneração está ensinada em Efes. 5:26; Tia. 1:18; 1 Ped. 1:23. É evidente de 1 Ped. 1:25 que a palavra nestas passagens é a Palavra escrita ou pregada antes que o Verbo encarnado (que é Cristo). Em 1 Ped. 1:23 a palavra está caracterizada como aquilo que “vive e permanece para sempre”. Então, no verso 24, está referido a natureza perecível de outras coisas. E, no verso 25, a duração da Palavra está de novo referida, e está plenamente especificada que a referida Palavra é “a Palavra de boas novas que vos foi evangelizada” (tradução correta).

Veremos mais adiante a evidência da instrumentalidade da Palavra na regeneração quando notamos em nossa consideração de fé, o que é o objeto e a base de fé, a qual é operada em nossos corações como parte da regeneração.
Todavia, carece de ficar entendido que na primeira fase da regeneração (vivificação) o Espírito opera sobre a alma independente da Palavra. À alma espiritualmente morta deve-se dar vida antes que ela possa ver e agir sobre a verdade. É na vivificação que se pode vir a Cristo (João 6:65). É assim que Deus dá homens à possessão de Cristo (João 6:37). “Na mudança primaria de disposição, a qual é o traço essencialíssimo da regeneração, o Espírito de Deus age diretamente sobre o espírito do homem. Na consecução do exercício inicial da nova posição – a qual constitui o traço secundário da obra de Deus na regeneração – a verdade é usada como um meio. Daí, talvez, em Tiago 1:18, lemos: “Do seu próprio querer ele nos gerou pela Palavra da verdade”, em vês de “Ele nos ganhou pela Palavra da Verdade” – a referência sendo ao secundário, não ao primário, traço da regeneração” (Strong, Systematic theology, pág. 454)
IV. EVIDENCIAS DO NOVO NASCIMENTO
1. CONFIANÇA GENUÍNA EM CRISTO SÓ PARA A SALVAÇÃO.
Notamos que a fé é operada no coração como uma parte (a secundária) ou regeneração. Isto é necessariamente assim porque a nova natureza não pode estar na incredulidade. A fé que se opera no homem pela regeneração não se detém por menos que implícita confiança e certeza em Cristo como salvador pessoal. Não é meramente crença a respeito dEle, mas fé e confiança nEle e sobre Ele. Isto é tão abundantemente evidente das passagens que tratam da fé que argumento mais extenso não é preciso para substanciá-lo.

Ninguém se regenerou até que esteja pronto a confiar o seu eterno bem-estar inteiramente a Cristo. Deve ter se arrependido das obras mortas (Heb. 6:1) . Todas as obras engajadas para a salvação são obras mortas. Nenhuma fé se conta por justiça e portanto não é fé salvadora. Exceto a fé do que “não obra” para salvação (Rom. 4:5). Enquanto alguém está olhando para qualquer coisa que não Cristo, não esta o tal regenerado.

2. O TESTEMUNHO E A PRESENÇA MORADORA DO ESPÍRITO

Rom. 8:16,9; 1 João 3:24; 4:13. O testemunho e a habitação do Espírito não se evidência por algum sentimento vago, místico, abstrato, mas pelo constante poder regente do Espírito (Rom. 8:14) produzindo devoção a Deus e uma vida obediente. É pela habitação constante do Espírito e Sua operação em nós que Deus executa até ao fim a obra que Ele começa em nós na regeneração (Fil. 1:6, 2:13). O testemunho e a moradia do Espírito estão evidenciados em todos os modos subseqüentes.

3. PRONTIDÃO EM ACEITAR A PALAVRA DE DEUS

João 8:47. Uma pessoa regenerada mostrará sempre um desejo de conhecer a vontade do Seu Pai em tudo a seguir essa vontade quando se torna conhecida. Não se achará andando continuamente em obstinada rebelião contra a verdade.

4. ESTADO CÔNSCIO DE PECADO

Rom. 7:14-25; 1 João 1:8. Nenhuma pessoa salva crer-se-á sem pecado. Os que crêem, estão enganados e sem a verdade, pela qual somos regenerados (Tia. 1:18) e feitos livres (João 8:32). Isto o torna claro que não estão salvos. A nova natureza reconhecerá sempre a presença do pecado no corpo, como no caso de Paulo (Rom. 7:14-25). Essa nova natureza tem em si mesma a unção iluminante do Espírito (1 João 2:27) e participa da natureza de Deus mesmo (2 Ped. 1:4), sendo criada em justiça e verdadeira santidade (Efe. 4:24). Não pode estar cega ao pecado.

5. AMOR DE DEUS E JUSTIÇA

João 8:42; Rom. 7:22; 2 Cor. 5:17; 1 João 4:16-19. Juntamente com o estado cônscio de moradia do pecado estará um amor de Deus e justiça, tal como no caso de Paulo. Paulo achou o pecado no corpo, mas contudo alegrou-se na Lei de Deus segundo o homem interior.

6. UMA VIDA QUE É OBEDIENTE SEGUNDO O SEU TEOR PRINCIPAL

João 14:21-24; Rom. 6:14; 8:6,13; Gal. 5:24; 1 João 1:6; 2:4,15; 3:8,9; 2 João 6. A vida da pessoa salva não será perfeita, mas será justa e obediente quanto ao seu teor principal. Para mais extensa discussão desta matéria vide estudo de 1 João 2:4.

7. PURIFICAÇÃO PROGRESSIVA

1 João 3:3. Enquanto o crente nunca alcançará perfeição sem pecado nesta vida, contudo ele sempre batalha contra os seus próprios pecados.

8. AMOR DE OUTROS CRENTES

1 João 3:14, 5:2. Há uma tal afinidade entre as pessoas regeneradas que elas se amam mutuamente. Uma evidência deste amor é que elas se alegram na presença e amizade de uns pelos outros. Deus, porém, ajuntou um outro teste de nosso amor pelos irmãos: se amarmos a Deus e guardamos os Seus mandamentos sabemos que amamos os filhos de Deus. Vede a segunda passagem à cima. Assim, de novo somos trazidos de volta à matéria de obediência a Deus.

9. PERSEVERANÇA ATÉ AO FIM.

Mat. 10:22; Rom. 11:22; Fil. 1:6; Col. 1:23; 1 João 3:9; 5:4. A perseverança tanto é uma doutrina da Escritura como a conservação. Pela conservação de Deus somos levados a perseverar. Estas duas doutrinas são perfeitamente coerentes e precisam de ser sustentadas e pregadas como verdades gêmeas. Ninguém alcançará o céu senão aqueles que resistem firmes até ao fim e vencem o mundo. Vide as promessas aos vencedores no Apoc. 3 e 4. Nenhumas promessas a outros. Mas todos dentre os regenerados vencerão (1 João 5:4).

A CONVERSÃO

Virando do lado divino da salvação para o humano, somos trazidos a uma consideração da conversão. Notamos:

I. A CONVERSÃO DEFINIDA

1. A CONVERSÃO PROPRIAMENTE

Por conversão propriamente queremos dizer o sentido técnico e teológico em que o termo é comumente usado. Neste sentido tem sido definido como segue:

“Conversão é aquela mudança voluntária na mente do pecador em que ele se vira do pecado, por um lado, e para Cristo, doutro lado. O elemento primário e negativo da conversão, nomeadamente, virar-se do pecado, denominamos arrependimento. O elemento da conversão, último e positivo, nomeadamente virar-se para Cristo, denominamos fé.” E outra vez: “Conversão é o lado humano ou aspecto daquela mudança espiritual fundamental, que, vista do lado divino, chamamos regeneração.” - A. H. Strong, em Systematic Theology, pág. 460.

Podemos ir mais longe do que Strong vai à última citação e dizer que a regeneração, ou o novo nascimento, no seu sentido mais largo, inclui a conversão, que está assim apresentada em tais passagens como Ti. 1:18 e 1 Pedro 1:23, onde a Palavra de Deus está distintamente representada como o instrumento do Espírito Santo na regeneração. Se o novo nascimento significasse somente a comunhão de vida, então não haveria necessidade da instrumentalidade da Palavra. De modo que podemos dizer que a regeneração tem tanto do lado divino como do humano. O lado divino podemos chamar vivificação e o humano conversão. Aquelas passagens que falam de vivificação tem referência, talvez, só ao lado divino , enquanto que as passagens que falam de regeneração, gerar e nascimento, referem-se à obra completa de trazer o homem do pecado à fé salvadora em Cristo.

2. CONVERSÃO NO SEU SENTIDO GERAL

“Do fato de a Palavra “conversão” significar, simplesmente, um “virar”, toda volta do cristão do pecado, subseqüente à primeira, pode, num sentido subordinado, ser denominado uma conversão (Lc. 22:32). Desde que a regeneração não é santificação completa e a mudança da disposição regente não é idêntica à purificação completa da natureza, tais voltas subseqüentes do pecado são conseqüências necessárias e evidencias da primeira (Cf. João 13:10). Mas não implicam, como a primeira, mudança na disposição regente, - antes são novas manifestações da disposição já mudada. Por esta razão, a conversão própria, como a regeneração, de que é o lado obverso, pode ocorrer apenas uma vez.”- A. H. Strong, em Systematic Theology, pág. 461.

Neste capítulo temos referência ao sentido técnico e teológico da conversão como dado no primeiro caso supra.

II. A ORDEM LÓGICA DE VIVIFICAÇÃO E CONVERSÃO
Como afirmamos acima, vivificação e conversão parecem ser os lados divinos da regeneração ou o novo nascimento. É nosso propósito agora, portanto, considerar a questão quanto ao que é logicamente primeiro, o lado divino ou o humano, na regeneração. Propôs esta questão é respondê-la a todos que são capazes de pensar logicamente. O lado divino é certíssima e logicamente anterior ao lado humano. Em consideração desta atitude notemos:

1. PROVAS APRESETADAS

(1). A conversão envolve virar-se do pecado, o que o homem por natureza não pode fazer.

Por natureza o homem pode reformar sua vida até um certo ponto: pode virar-se de algumas formas de pecado; mas, por natureza não pode mudar a disposição regente de sua natureza. Está isso provado em Jer. 13:23, que reza: “Pode o etíope mudar sua pele, ou o leopardo as suas manchas? Assim podeis vós também fazer o bem, acostumados a fazer o mal?” O pecador está acostumado a fazer o mal; logo, é-lhe impossível virar-se do mal (pecado) até que sua disposição regente se mude. Isto é só tão impossível como é para o mais preto dos negros fazer-se branco, ou o leopardo despir-se do seu manto malhado.

(2). A conversão é agradável a Deus e o homem natural não pode agradar a Deus.

Ninguém pode duvidar da primeira parte da afirmação supra. A última parte está provada em Rom. 8:8, que diz: “Os que estão na carne não podem agradar a Deus.” Isto inclui a todos a quem Deus não deu uma nova natureza.

(3). A conversão é uma boa coisa e nenhuma boa coisa pode proceder do coração natural

Disse Paulo que não havia nenhuma coisa boa na sua natureza carnal (Rom. 7:18). Esta é a única natureza que o homem possui até que Deus lhe de uma nova; portanto, a doação da nova natureza, ou vivificação, deve vir antes da conversão. Afirmar diferente é negar a depravação total, a qual significa que o pecado permeou cada parte do ser humano e envenenou cada faculdade, não deixando no homem natural nenhuma coisa boa.

(4). A conversão envolve submeter-se alguém à vontade ou à Lei de Deus e isto é impossível ao homem natural

Que tal é impossível ao homem natural está estabelecido em Rom. 8:7, onde lemos: “A inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à Lei de Deus e nem em verdade o pode ser.”

(5). A conversão envolve receber a Cristo como Salvador de uma pessoa, o que é uma coisa espiritual, e o homem natural não pode receber coisas espirituais.

Esta última verdade está declarada em 1 Cor. 2:14; como segue: “O homem natural não pode receber as coisas de Espírito de Deus: porque são para ele loucura; não pode conhece-las, porque se discernem espiritualmente.” Se a verdade do poder salvador de Cristo pela fé não é uma coisa do Espírito de Deus, a saber, uma coisa que o homem pode entender somente pela revelação do Espírito, então que verdade é uma coisa do Espírito de Deus?

(6). A conversão envolve fé e a fé opera-se no homem pelo mesmo poder que levantou Jesus dentre os mortos.
Tal é a declaração de Efe. 1:19,20, na qual lemos da “sobre-excelente grandeza do Seu poder em nós, os que cremos, segundo a operação da força do Seu poder, a qual operou em Cristo ressucitando-O dos mortos.”

(7). A conversão é uma ressurreição espiritual e numa ressurreição a comunicação da Vida Deve sempre preceder a manifestação da Vida nascente

A conversão está representada em Efe. 2:4-6 como uma ressurreição espiritual, que diz: “Deus, que é rico em misericórdia, pelo Seu grande amor com que nos amou, ainda quando estávamos mortos em pecados, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça somos salvos); e juntamente nos ressuscitou e nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus.” O ressuscitar aqui representa a conversão. Assim, a questão que estamos considerando é quanto ao que é primeiro, o vivificar ou o ressuscitar. Não pode haver dúvida razoável que o vivificar é o primeiro num sentido lógico.

(8). A conversão envolve a vinda de Cristo e o ato do Pai em dar homens a Cristo precede a vinda deles a Cristo

Em João 6:37 lemos como segue: “Todos quantos o Pai me dá virão a mim.” Certamente que esta passagem coloca o ato do Pai em dar homens a Cristo logicamente anterior à vinda deles a Ele, o Filho. Este ato do Pai é um ato discriminativo e efetivo, porque todos que são dados vem e todos os homens não vem. De modo que este ato de dar não podia aludir ao mero dar da oportunidade de vir a Cristo nem podia aludir à “graciosa habilidade” assim chamada ou “graça proveniente” que se supõe pelos seus advogados ser dispensada a todos os homens. O ato não pode referir-se a nada menos que à doação atual de homens à possessão imediata de Cristo por vivificá-los à vida. Os homens vêm a Cristo na conversão. Assim o vivificar deve preceder a conversão.

(9). A conversão envolve a vinda a Cristo e nenhum homem pode vir a Cristo a menos que Deus lhe de habilidade para fazer assim

Em João 6:35 lemos: “Nenhum homem pode vir a mim se por meu Pai lhe não for concedido.” Esta passagem, como a notada há pouco, não se refere à mera doação de oportunidade de vir a Cristo, nem à comunicação de “habilidade graciosa” assim chamada ou “graça proveniente” pelas mesmas razões apresentadas supra em comentar João 6:37. Esta última passagem, assim como a primeira, refere-se a um ato discriminativo, efetivo. O contexto o faz claro no caso de João 6:65. As palavras desta passagem foram faladas em vista de e como uma explicação do fato que alguns não crêem.

Nenhuma destas últimas passagens pode referir-se a qualquer espécie de mera ajuda que Deus pudesse supostamente dispensar ao homem natural, porque arrependimento e fé não podem proceder do coração natural, segundo já o mostramos. Ambas as passagens não podem referir-se a nada menos que o poder vivificador de Deus, no qual os homens se habilitam a vir a Cristo.

2. AS ESCRITURAS EXPLICADAS

Sendo verdade que a conversão é o resultado de vivificar e, portanto, não uma condição disso, pode ser perguntado como entendermos aquelas passagens que fazem da fé uma condição de filiação. Vide João 1:12; Gal. 3:26. Respondemos que essas passagens se referem à filiação através da adoção e não a filiação através da regeneração. Como já notamos, a adoção é um termo legal: ela vem como um resultado imediato da justificação. Não é o mesmo como um resultado imediato da justificação. Não é o mesmo como a regeneração. Ela confere o direito de filiação. A regeneração confere a natureza de filhos.

III. A RELAÇÃO CRONOLÓGICA DA VIVIFICAÇÃO E DA CONVERSÃO

Porque a vivificação precede logicamente a conversão não é prova que assim o faz cronologicamente, ou quanto ao tempo. Mantemos que a vivificação não precede a conversão em matéria de tempo senão que ambas são sincrônicas ou simultâneas. Notemos:

1. ARGUMENTOS EM PROVA DISTO

(1). Uma diferença cronológica entre vivificação e conservação envolveria a monstruosidade de um individuo com vida do alto e contudo na incredulidade.

Na comunicação da vida divina participamos da natureza de Deus (2 Ped. 1:4). E é impossível que uma semelhante natureza fosse em incredulidade. Todos os incrédulos na Bíblia dizem-se como estando mortos. Daí, não pode ser que haja ainda um tempo quando haja vida sem fé.

(2). A Escritura declara que somente o que tem o Filho tem vida.

Isto está declarado em 1 João 5:12. Ter o Filho envolve crer no Filho. Daí, ninguém tem a vida exceto crentes; ou, para pô-lo de outra maneira, todos os que têm vida são crentes; logo, não pode haver período algum de tempo entre vivificar e converter.

2. EXPLICAÇÃO

Como pode haver uma sucessão lógica sem uma sucessão cronológica? Um número de ilustrações podia ser dado para mostrar que é possível, mesmo no reino físico. Uma ilustração apta é como segue. Imagine-se um tubo que vá da costa do Atlântico dos Estados Unidos ao Pacífico. Agora imaginai também que este tubo está cheio de um fluido incompreensível. Que se faça pressão deste fluido na costa atlântica, instantemente será registrada no Pacífico. Todavia, logicamente, a exerção da pressão deve preceder o assentamento dela no outro extremo.

Damos então a seguinte bela ilustração da simultaneidade de vivificação e conversão. É de Alvah Hovey, como dada por A. H. Strong: “Ao mesmo tempo em que Deus faz sensível a chapa fotográfica, Ele derrama a luz da verdade por meio da qual se forma na alma a imagem de Cristo. Sem a sensibilização da chapa ela nunca fixaria os raios de luz de modo a reter a imagem. No processo de sensibilizar, a chapa é passiva; sob a influência da luz é ativa. Tanto em sensibilizar como em tirar o retrato o agente real não é nem a chapa nem a luz, mas o fotógrafo. Fotógrafo não pode executar ambas as operações no mesmo momento. Deus pode. Ele dá o novo afeto e no mesmo instante Ele consegue o seu exercício em vista da verdade.”

3. OBJEÇÃO RESPONDIDA.

A posição pré-citada pode ser objetado que “a tristeza divina obra arrependimento” e que um morto em pecado não pode ter tristeza divina. Isto é verdade, mas a tristeza divina obra arrependimento instantaneamente e é sincrônico com o arrependimento. É impossível conceber apropriadamente um homem como tendo tristeza divina sem possuir também uma mente mudada ou atitude mudada para com o pecado. A tristeza divina, a mesma como vivificar, precede logicamente o arrependimento, mas nenhuma delas o precede cronologicamente.

A DOUTRINA DA SANTIFICAÇÃO

Neste capítulo temos referência à santificação do crente. A aplicação da palavra a outras coisas será referida só para lançar luz sobre a santificação do crente.

I. O SIGNIFICADO DE TERMOS

O nome “santificação” é a tradução do grego “hagiasmos”. O verbo grego é “hagiazo”. O verbo hebraico correspondente é “quades”. O nome grego é usado dez vezes no Novo Testamento. Cinco vezes está traduzido “santificação” e cinco vezes está traduzido “santidade”. O verbo grego é empregado vinte e nove vezes no Velho Testamento. Vinte e seis vezes está traduzido “santificar”. Duas vezes é traduzido por “honra”. Uma vez ocorre voz passiva e está traduzida “sê santo”. “Hagios” é outra palavra grega derivada de “hagiazo” e está usada tanto como adjetivo como nome: como adjetivo ocorre noventa e três vezes com “pneuma” (Espírito) para designar o Espírito Santo. Em sessenta e oito outros casos é usado como adjetivo e está traduzido “santo”. Como nome está traduzido “santíssimo” duas vezes, uma vez como “o mais santo de todos”, quatro vezes “O Santo”; três vezes “lugar santo”; uma vez “coisa santa”; três vezes “santuário” e “santo” ou “santos” sessenta e duas vezes.

O Léxico de Thayer define “hagiazo” como significando “dar ou reconhecer por venerável, honrar, separar de coisas profanas e dedicar a Deus, consagrar; purificar”, tanto externamente - se cerimonialmente (1 Tim. 4:5; Heb. 9:13) ou por expiação (Heb. 10:10; 13:12) – como internamente. O significado de “hagiasmo” e “hagios” procede do de “hagiazo”, segundo o próprio uso deles.

II. A SANTIFICAÇÃO PASSADA DOS CRENTES

Há um sentido em que o povo salvo já foi santificado.

1. REFERÊNCIA ESCRITURÍSTICAS A ISSO

Atos 20:32; 26:18; 1 Cor. 1:2; 6:11; 2 Tess. 2:13; Heb. 19:19; 1 Ped. 1:2

2. NATUREZA DISSO

A santificação passada do crente é tríplice:

(1). Consagração

O crente foi consagrado ou dedicado ao serviço de Deus. Temos o tipo disto na santificação do tabernáculo e do templo com seus petrechos e equipamentos. Vide Ex. 29:37; 30:25-29; 40:8-11; Lev. 8:10,11; 21:23; 1 Reis 7:51; 2 Cor. 2:4; 5:1; 29:19. A santificação semelhante àquela que está ora sob consideração pode ser vista em Gên. 3:2; Joel 1:14; Jer. 1:5; João 10:36.

Santificação neste sentido é uma separação formal e externa para Deus. Não há pensamento aqui de santidade interna.
(2). Purificação legal

Esta é a espécie de santificação referida em 1 Cor. 1:30; Efe. 5:26; Heb. 10:10; 13:12. Aos olhos da Lei do Velho Testamento o crente é santo; porque Cristo, por Sua morte, pagou a penalidade da Lei e, pelo Seu sangue, lavou toda culpa (1 Cor. 6:11; Gal. 3:13; Apoc. 1:5; 7:14).

(3). Purificação moral da alma

Noutro capítulo já indicamos que a regeneração remove toda depravação da alma, ou natureza espiritual do homem, de maneira que o único pecado que fica no homem é o pecado da natureza carnal, a qual é muitas vezes referida como corpo. Cremos que esta espécie de santificação está referida em 2Tess. 2:13 e 1Ped. 1:2, também 1 Cor. 6:11.

Tanto quanto diz respeito à remoção da presença do pecado da alma, o crente tem uma perfeita santificação moral, tanto como uma perfeita santificação formal e legal. Fica no crente, como veremos, a necessidade de mais santificação, mas esta não tem que ver com a remoção do pecado da alma. A alma se faz sem pecado na regeneração e neste sentido está perfeitamente santificada.

3. COMO É ELA REALIZADA

(1). Deus, sem dúvida, é o autor dela

Ele é o autor de toda a boa coisa. Ele nos elegeu para ela. Ele a ideou e planeou.

(2). O Espírito Santo é o Agente de Deus na Realização dela

1 Cor. 6:11; 2 Tess. 2:13; 1 Ped. 1:2.

(3). A morte de Cristo é à base da obra do Espírito Santo

Vide as passagens dadas supra sob purificação legal.

(4). A fé é o meio

Atos 26:18. A fé é o meio pelo qual a alma se purifica (Atos 15:9; 1 Ped. 1:22).

(5). A palavra de Deus é um meio Secundário

Isto é verdade porque a “fé vem pelo ouvir e o ouvir pela Palavra de Deus” (Rom. 10:17).

III. A SANTIFICAÇÃO PRESENTE DO CRENTE

Há um sentido em que o crente está sendo santificado.

1. REFERÊNCIA DA ESCRITURA A ELA

João 17:17,19; Rom. 6:19-22; 15:16; 1 Tess. 5:23; Heb. 2:11; 10:14; 12:14; 1 Ped. 1:15. Alistamos aqui passagens somente em que “hagiasmos”, “hagiazo” ou “hagios” aparecem no original. Há muitas outras passagens que, indiretamente, se referem à santidade presente do crente.

2. COMO É ELA REALIZADA

(1). Deus é o autor dela

João 17:17; 1 Tess. 5:23.

(2). O Espírito Santo é o agente

Rom. 15:16. O Espírito Santo realiza a nossa santificação presente por guiar (Rom. 8:14), transformar (Rom. 12:2; 2 Cor. 2:18), fortificar (Efe. 3:16), fazer frutífero (Gal. 5:22,23).

(3). A morte de Cristo é a base

A morte de Cristo provê a base para tudo da obra do Espírito Santo.

(4). A palavra de Deus é o Instrumento do Espírito

João 17:17. Isto está provado por todas as passagens que ensinam que a verdade promove obediência, previne e purifica do pecado, faz-nos odiar o pecado e causa-nos crescer na graça. Vide Salm. 119:9, 11, 34, 43, 44, 50, 93, 104; Heb. 5:12-14; 1 Ped. 2:2.

(5). A fé é o meio principal

É pela fé que a instrumentalidade da Palavra se faz eficiente. A fé é ao mesmo tempo o resultado da obra santificadora do Espírito e o meio principal para Sua obra santificadora ulterior.

(6). Nossas próprias obras são também um meio para nossa presente santificação

Rom. 6:19. Assim como o exercício físico é necessário ao crescimento espiritual. O exercício físico desenvolve o apetite para o alimento, do qual recebemos nutrição que produz crescimento. O exercício espiritual desenvolve apetite para a Palavra de Deus, do qual recebemos nutrimento espiritual que produz crescimento na graça.

(7). Outros meios menos diretos

Entre outros meios menos diretos em nossa presente santificação nomeiem-se a oração, o ministério ordenado de Deus (Efe. 4:11,12), freqüência à igreja e associação com crentes em capacidade comunal, observância das ordenanças do batismo e da Ceia do Senhor, a observância do dia do Senhor e o castigo e as providências de Deus.

Tudo dessas coisas ajuda para com a nossa presente santificação, não por causa de qualquer virtude intrínseca de si mesmas, mas somente como de um ou outro meio, trazem-nos em contacto com a verdade divina, iluminam nossas mentes em relação a ela e trazem-nos a uma apreciação mais elevada dela e mais completa obediência a ela. É somente desta maneira que o batismo e a Ceia do Senhor contribuem para a nossa presente santificação. Não são sacramentos e muito menos sacramentos concessores de graças. A graça recebida por meio das ordenanças não é recebida ex opere operato – do mero ato de observância.

3. A NATUREZA DELA

É “aquela operação contínua do Espírito Santo, pela qual a santa disposição comunicada na regeneração é mantida e fortalecida” (Strong, Systematic Theology, pág. 483).

(1). O que ela não é

A. Não é um melhoramento da carne

Nossa presente santificação inclui o corpo (1 Tes. 5:23), mas não tanto assim que altere essencialmente a pecaminosidade da carne. A carne cobiça contra o Espírito (Gal. 5:17). Mesmo num soldado da cruz idoso e sasonado, como foi o apóstolo Paulo, vemos que a carne estava ainda inalterada (Rom. 7:14-24). O corpo está incluído em que á alma, por meio da santificação, se dá maior controle sobre ele e assim está guardado, até certo ponto, de atos ostensivos de pecado; mas sua pecaminosidade essencial está latente.

B. Não é uma eliminação gradual de pecado na alma.

Como já notamos, a alma se torna impoluta na regeneração e se une com o Espírito Santo. Nenhum pecado fica na alma, portanto, a ser eliminado por nossa presente santificação.

(2). O que ela é

A. É uma manutenção progressiva e fortalecimento da alma em santidade.

Por meio de nossa presente santificação nossas almas são confirmadas em santidade. Santo foi Adão na criação, mas não foi confirmado em santidade. A natureza progressiva de nossa presente santificação está bem implicada em Heb. 2:11 e 10:14, onde está empregado o particípio presente, que sempre denota ação progressiva.

B. É inteiramente interna

Nossa santificação passada é em parte externa, mas a presente é inteiramente interna.

C. É prática.

Conquanto seja interna, contudo ela se manifesta externamente em vida prática cristã.

D. É experimental

Nossa santificação passada pode ser só muito escuramente experiêncial no tempo em que ela ocorre, mas a presente é definitivamente experiencial. O crente sente e conhece o trabalhar do Espírito no seu coração, fortalecendo-o, transformando-o de graça em graça (2 Cor. 3:18), movendo-o à oração, aos estudo da Bíblia e outros exercícios e atividades cristãs. E esta obra do Espírito no crente é a fonte de sua firmeza. É deste modo que o Espírito testemunha com os nossos espíritos que somos filhos de Deus (Rom. 8:18).

E. É sempre incompleta nesta vida.

A nova vida jamais ganha perfeito controle sobre a natureza carnal; Isto nos leva a considerar:

IV. REFUTADA A DOUTRINA DE PERFEIÇÃO SEM PECADO

Um estudo da doutrina bíblica de santificação não é completo sem uma consideração do ensino que a impecabilidade é inatingível nesta vida. Urgimos sobre o seguinte:

1. OBJEÇÕES A ESTA DOUTRINA

(1). O apóstolo Paulo, a quem Deus estabeleceu como um exemplo humano para crentes (1 Tim. 1:16) e em cuja vida não estamos certos de se ver qualquer falta, não teve, mesmo na velhice, alcançada perfeição impecável.

É isto evidente de Rom. 7:14-24. Absurdo é referir isto a Paulo antes da regeneração. No décimo quarto versículo há significativa mudança do tempo passado para o presente. Fazer os versos além do décimo quarto referir-se à vida de Paulo antes da regeneração é fazer deles uma monstruosidade gramatical. A última parte do verso vigésimo quinto mostra que a vitória sobre o pecado por meio de Jesus Cristo não tem lugar nesta vida. Isto também está patente em Rom. 8:23-25. A vitória vem somente com a redenção do corpo, a qual terá logar na ressurreição.

Outra vez, a linguagem de Rom. 7:14-24 mostra que ela se refere a um homem salvo. “Nenhum homem irregenerado pode verdadeiramente dizer: “Eu consinto com a Lei, que é boa”; “Querer estar presente comigo”; “Porque me deleito na Lei de Deus segundo o homem interior”; “Assim então, com a mente eu mesmo sirvo à Lei de Deus” (Pendleton, Chistian Doctrines, pág. 301).

A idéia que em Rom. 7 temos a experiência de Paulo depois de ter sido salvo, mas antes santificado, enquanto que em Rom. 8 temos sua experiência depois de ter sido santificado, é também absurda. Como temos apontado, o capítulo oitavo de Romanos não ensina a perfeição impecável mais do que o capítulo sétimo. No oitavo Paulo ensina que os crentes ainda gemem debaixo da pecaminosidade do corpo e estão esperando pela sua redenção (vs. 23), sendo salvos pela esperança (vs. 24,25). Toda a prosa do crente: na sua experiência, safando-se do capítulo sétimo de Romanos para o oitavo, não tem sentido. Todo crente vive toda a sua vida em ambos os capítulos, que ambos são só parte de um discurso ligado. “O portanto” do verso 1 do capítulo 8 dirige-nos de volta à última parte do capítulo sétimo como base do que está dito no oitavo.

A epístola aos romanos foi escrita antes da viagem de Paulo a Roma. Depois de ter sido levado a Roma, enquanto prisioneiro lá, escreveu algumas epístolas.Uma delas é a epístola aos filipenses. Nesta epístola Paulo ainda renuncia à perfeição absoluta. Disse ele que não se considerou como já a tendo atingido. Fil. 3:12.

(2). O modelo de oração dado por Cristo aos Seus discípulos implica pecaminosidade contínua por parte do povo salvo.


Como é bem sabido, Cristo ensinou Seus discípulos a confessar os seus pecados na oração modelo. Nem Ele em qualquer tempo ou de qualquer modo insinuou ou implicou que havia um tempo quando eles poderiam apropriadamente dispensar esta confissão do pecado e petição de perdão.

(3). O fato que todos entre os filhos de Deus são castigados por Ele mostra que todos eles pecam (Heb. 12:5-8).

“Se estais sem castigo, do qual todos são feitos participantes, então sois bastardos e não filhos” (Heb. 12:8). Não pode haver castigo sem pecado. Deus podia tratar-nos de um modo providencial, se fossemos perfeitos, mas os Seus tratos não poderiam chamar-se castigo.

(4). Tiago declara que todos pecam.

“Todos nós tropeçamos em muitas coisas” (Tia. 3:2).

(5). João declara que quem professa impecabilidade está enganado.

“Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos e a verdade não está em nós” (1 João 1:8). “Nós” – certamente se refere a crentes. E o tempo presente mostra que a passagem se refere, não a uma negação de pecado anterior senão a uma negação de pecado atual. E esta passagem nos diz que os professantes da perfeição impecável estão auto-iludidos. Estão enganados pelo menos sobre quatro coisas, a saber:

A. A natureza da Lei de Deus (a Lei de Cristo – 1 Cor. 9:21) para crentes.

Em vez de verem a Lei de Deus para crentes como um transcrito de Sua santidade, um padrão perfeito de justiça, vêem-na como uma balança móvel que se acomoda à nossa habilidade. “Esta idéia reduz a divina à habilidade do devedor para pagar,- método breve de se desincumbirem obrigações. Posso saltar a torre de uma igreja, se me for permitido fazer uma torre de igreja bem baixa; posso tocar as estrelas, se as estrelas baixarem somente à minha mão.” (Strong).

B. O escôpo do pecado.

Queriam que crêssemos que as transgressões “involuntárias” não são pecados. John Wesley, um dos mais proeminentes advogados da doutrina de perfeição impecável nesta vida , disse: “Creio que uma pessoa cheia do amor de Deus ainda está sujeita a transgressões involuntárias. Tais transgressões podeis chamar pecados, se vos apraz; eu não.”

Meios involuntários: “1. Contrário a vontade ou desejo de alguém. 2. Não sob o controle da vontade.” Como aplicada a atos morais, a palavra deve ter o primeiro sentido. O segundo sentido aplica-se somente a tais coisas como a digestão, o bater do coração e outras funções naturais do corpo. E o significado da vontade ou desejo na primeira definição deve ser entendido no sentido restrito do teor normal da vontade. No sentido lato ninguém nunca age contra sua vontade ou desejo, exceto quando sobrepujado pela força física. Nenhuma pessoa salva quer normalmente zangar-se e falar palavras ferinas; mas, sob sérias provocações, perde-se a calma e diz coisas que não devera ter dito. São estes atos involuntários, segundo o único sentido em que se pode aplicar o termo a atos morais. Portanto, conforme com John Wesley e outros perfeccionistas, estes atos não são pecado. As mesmas coisas poder ser aplicada ao homicídio de Urias por Davi e ao seu adultério com Betséba.

C. O poder da vontade humana.

Afirmar que à vontade, mesmo normalmente, pode escolher a Deus supremamente em qualquer momento, ou é negar a depravação na natureza carnal do homem ou implicar que a vontade é uma adesão externa a natureza do homem antes que uma expressão dela. “Dizer que, o que quer que tenham sido os hábitos do passado e o que quer que sejam as más afeições do presente, está o homem perfeitamente apto a obedecer em qualquer momento à Lei total de Deus, é negar que haja coisas tais como caráter e depravação.” (Strong).

D. Sua própria salvação.

Quando João diz: “a verdade não está em nós”, ele não se refere à verdade abstrata, mas a “verdade do evangelho, trazendo a luz de Deus à alma e assim revelando pecados como a luz solar faz ao pó” (Sawtelle). “A verdade é para ser tomada objetivamente como a verdade divina em Cristo, o princípio absoluto da vida vindo de Deus e recebido no coração” (Lange). Este sentido é confirmado pelo verso 10, que diz: “Se dizemos que não pecamos, fazemo-lo (a Deus) mentiroso e Sua Palavra não está em nós.” Esta passagem repete a verdade do verso 8. “As pessoas supostas como dizendo isto são vistas no ponto quando deveriam estar oferecendo sua confissão – uma confissão de pecado principiando no passado e chegando ao presente; daí, o tempo perfeito” (Sawtelle). E as expressões “a verdade não está em nós” e “Sua Palavra não está em nós” negam o caráter cristão de todo o professante da perfeição impecável. Por estas passagens todos eles estão perdidos.

2. AS ESCRITURAS EXPLICADAS

Assumimos as seguintes passagens da Escritura tidas pelos perfeccionistas impecáveis como prova da sua teoria.

(1). As passagens que falam do crente como sendo “perfeito”

Referimo-nos aqui a semelhantes passagens como Lucas 6:40; 1 Cor. 2:6; 2 Cor. 13:11; Efe. 4:11; Fili. 3:15; Col. 4:12; 2 Tim. 3:17.

A perfeição dessas passagens não é absoluta: é apenas perfeição relativa. Algumas vezes a palavra “perfeito” refere-se só a maturidade cristã em contraste com a fraqueza de criancinhas em Cristo. Algumas vezes quer dizer somente que aqueles a quem descreve estão livres de qualquer falta grave. Assim nos é dito que Noé era um homem justo e perfeito” (Gen. 6:9), ainda mesmo bêbedo (Gen. 9:21). E assim se diz que Jó era perfeito e justo” (Jó 1:1).

O emprego da palavra “perfeito” em Fil. 3:15 lança luz interessante e instrutiva sobre o seu sentido usual na Escritura. No verso 12, como já notamos, Paulo renuncia à perfeição. Então, no verso 15 ele endereça uma exortação à “tantos quantos são perfeitos”. É perfeitamente evidente, então, que no verso 12 ele faz referência à perfeição absoluta, enquanto que no verso 15 ele alude aos que são relativamente perfeitos ou maduros. E a estes ele exorta a “sentir o mesmo”. Por isto ele quer dizer que eles devem renunciar à perfeição absoluta, como ele fez, e prosseguir para coisas mais elevadas. Assim vemos que “perfeito”, a luz do significado costumeiro do termo na Escritura, quando aplicado a crentes, exige que crentes renunciem a perfeição absoluta e todavia prossigam para coisas mais elevadas. O indivíduo que professa perfeição impecável e o que não está prosseguindo para frente não são “perfeitos”.

(2). Mat. 5:48 “Vós, portanto, sede perfeitos, assim como o vosso Pai celeste é perfeito.”

Nesta passagem Jesus firma para os Seus discípulos o ideal de perfeição absoluta. Ele não podia ter firmado nada menos do que isto sem coonestar e encorajar o pecado. Mas não há nada aqui ou em qualquer outro lugar que implique que os seguidores de Cristo ainda alcancem este ideal na carne. De fato, é ímpio afirmar que atingem este ideal, pois a perfeição oferecida é a de Deus mesmo.

(3). 1 Tess. 5:23 “E o Deus de paz mesmo voz santifique em tudo e sejam conservados inteiros vosso espírito e alma e corpo sem mancha na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo.”

Esta passagem deve ser entendida à luz da própria experiência de Paulo e à luz da Escritura como um todo. Se Paulo orou pela completa santificação dos tessalonicenses nesta vida, então ele orou por algo para eles que ele mesmo não tinha provado, ou então ele perdeu mais tarde sua completa santificação; porque, quando ele escreveu aos romanos muito depois, como temos notado, ele não professou impecabilidade.

A santificação porque Paulo orou para que Deus operasse nos tessalonicenses foi, na verdade, santificação completa, como evidenciado pela palavra grega “holoteles”; mas ele não indica que é para se cumprir nesta vida. A Escritura muito definitivamente condena a noção que Paulo esperou que ela se cumprisse nesta vida. E a menção da vinda de Cristo sugere que ele contemplou o futuro como o tempo quando sua oração estava para ter completa resposta. Paulo orou pelo prosseguimento da santificação progressiva, assim como Cristo orou pelo mesmo para os Seus discípulos (João 17:17), cuja santificação progressiva resultaria em completa santificação na segunda vinda de Cristo.

(4). 1 João 2:4 “Aquele que diz, eu O conheço e não guarda os Seus mandamentos, é um mentiroso e a verdade não está nele.”

Juntamente com esta passagem podemos classificar outras passagens semelhantes tais como João 14:23; Rom. 8:12; 1 João 1:6.

Estas passagens fazem referência ao teor geral da vida cristã. Elas não podem ser tidas como ensinando que quem está salvo guarda os mandamentos de Deus perfeitamente em qualquer momento, porque outras passagens o negam.

O Rio Mississipi proporciona uma excelente ilustração da vida cristã. Se se perguntar a alguém para que direção corre esse rio, responderá que corre na direção sul; mas a matéria de fato é que este rio algumas vezes corre para leste, outras para oeste e algumas vezes mesmo corre numa direção norte. Mas, a despeito destes fatos, prosseguimos dizendo que ele corre para o sul. Assim falamos porque consideramos o rio como um todo. Vemos o alvo principal do rio. Assim é com a vida cristã. Quando é vista como um todo, ou quanto ao seu alvo principal, percebe-se que é uma vida de justiça; mas a caudal, quanto ao seu alvo não é tão rápida perto das margens como é no centro. E nunca conservará sempre sua direção usual: baterá em obstruções que a desviarão temporariamente, mas de novo assumirá o seu curso normal no futuro.

(5). 1 João 1:7 “O sangue de Jesus Cristo seu Filho purifica-nos de todo pecado.”

Alguns têm a idéia que esta passagem quer dizer que o sangue de Jesus Cristo faz-nos impecáveis quanto a estado. Mas não é assim. O sangue de Jesus Cristo purifica-nos somente quanto à nossa posição perante Deus. Esta passagem faz referência á justificação e santificação legais, mas não à santificação progressiva e prática.

A necessidade de purificação constante da contaminação recorrente foi ensinada por Jesus quando Ele lavou os pés dos Seus discípulos. Ele disse: “O que está banhado não necessita senão de lavar seus pés, que o mais está todo limpo.” (João 13:10). O restante dessa passagem “estais limpos, mas não todos”, o qual está explicado no verso seguinte como querendo dizer: “Não estais todos limpos”, referindo-se a Judas, mostra que Jesus estava tirando uma analogia entre a purificação física e a purificação espiritual. Tanto como quem toma banho não precisaria de lavar-se outra vez, mas de limpar-se do pé nos pés, assim quem se banhou no sangue de Cristo não o repetirá mas, não obstante, estará na necessidade diária de se purificar da contaminação que se lhe adere no seu contato com o mundo. Ele “está todo limpo” quanto à sua posição perante Deus, mas na precisão de confissão e perdão diários para que mantenham comunhão com Deus.

(6). 1 João 3:9 “Quem é nascido de Deus não peca, porque Sua (de Deus) semente permanece nele; não pode pecar porque é nascido de Deus.”

A respeito dessa passagem, temos o seguinte a dizer:

A. Ela se refere ao padrão atual do viver cristão e não a um mero padrão ideal.

A passagem fala do que é realmente o cristão na sua conduta e não meramente de o que devera ser. Isto é evidente do verso seguinte, que diz: “Nisto (isto é, na sua inabilidade para pecar) os filhos de Deus são manifestos e os filhos do diabo.”

B. Ela se refere ao homem inteiro e não meramente à nova natureza.

É evidente que a “semente” nesta passagem se refere à nova natureza. O grego aqui é “sperma”. Está usada quarenta e quatro vezes no Novo Testamento, significando quarenta e uma vezes, não semente de plantio, mas progênie, descendências. Quando a Palavra de Deus é chamada “semente”, o grego não tem “sperma”, mas “spora” ou “sporos”. Vide Lucas 8:11; 1 Ped. 1:23.

Outra objeção de peso à idéia que “semente” representa aqui a Palavra de Deus e o “Qualquer que” a nova natureza, é que não é a Palavra de Deus que faz impossível a nova natureza pecar. É a qualidade da nova natureza que faz isto impossível. Se a nova natureza fosse pecaminosa, então a Palavra de Deus não impediria que ela pecasse mais do que impede a carne de pecar.
Thayer faz “semente” nesta passagem referir-se a energia divina do Espírito Santo operando na alma, pela qual somos regenerados. Mas isto é uma interpretação puramente arbitrária. Não temos razão para crermos que tanto o Espírito Santo como Sua energia são referidos ainda como “sperma”.

Portanto, tomando a “semente” como se referindo a nova natureza, necessariamente interpretamos “qualquer que” como se referindo ao homem inteiro; porque é “ele”, o homem inteiro, em quem a “semente”, a nova natureza, permanece, que não pode pecar.

C. Ela afirma, não que uma pessoa regenerada não pode cometer um só pecado, mas que ela não pode seguir um curso contínuo de pecado; não pode viver em pecado.

Adotamos esta interpretação desta passagem pelas seguintes razões:

(a). É a única idéia que está em harmonia com o texto. Está manifesto pelo contexto, como já foi observado, que João falava daquilo que é exterior e atual, algo que faz uma diferença manifesta em si e de si. Então, também, esta passagem evidentemente quer dizer a mesma coisa como os versos seis e oito e, se possível, são menos favoráveis as outras interpretações.

(b). Enquanto é verdade que o homem todo não é nascido de Deus, todavia, em passagens gerais tais como a que ora se considera a Escritura não faz distinção entre as duas naturezas do crente, mas frouxamente se refere ao homem como um todo. Diz a Escritura: “Exceto UM seja nascido de novo” e não “exceto um tenha uma nova vida nascida com ele”; “se alguém está em Cristo, ELE é uma nova criatura”; não “ele tem uma nova criatura nele”; “vivificou-NOS com Cristo”, não “vivificou uma nova vida dentro de nós”; “ele nos gerou pela Palavra da verdade”, não “ele gerou algo dentro de nós pela Palavra da verdade.”

(c). é a única idéia que toma conta do presente infinitivo “pecar” (grego- “harmartanein”) na última parte da passagem. O infinitivo presente sempre significa ação durativa, linear, progressiva – ação em sua duração continuativa. Por causa deste sentido do infinitivo grego, Weymouth traduz a passagem: “Ninguém que é um filho de Deus está habitualmente culpado de pecado. Um germe dado de Deus, de vida, fica nele e ele não pode pecar habitualmente”. E Sawtelle explica “não faz pecado”, como significando: “Não o faz como a Lei de sua vida, como a tendência do seu ser; não pertence à esfera do pecado.”

D. Notem os perfeccionistas impecáveis os seguintes fatos sobre esta passagem:

(a). Sua afirmação aplica-se a toda gente salva; não apenas a alguns que alcançaram um suposto plano elevado de vida. Assim esta passagem mata a teoria da “segunda benção”. A passagem esta falando sobre o que o crente é em virtude da regeneração, não o que ele é em virtude de uma suposta “segunda obra de graça”.

(b) A passagem referida afirma que o caráter referido não pode pecar. Assim, segundo sua própria teoria, teriam de interpretar a passagem como ensinando que um que alcançou a impecabilidade não pode nunca reincidir em pecado. Isto eles não admitirão. Assim mostram que seu único interesse nesta passagem é acalentar sua heresia ignorante e sem sentido.

V. OS FRUTOS DA SANTIFICAÇÃO PROGRESSIVA.

Pensamos bom aqui alistar quatro coisas que J. M. Pendleton, em “Christians Doctrines” dá como evidências ou frutos das influências graciosas do Espírito Santo em nosso santificação progressiva.

1. UMA NOÇÃO PROFUNDA DE DESVALIA

Nenhuma pessoa em quem o Espírito Santo fez qualquer obra considerável tem qualquer disposição para envaidecer-se de sua bondade. Para exemplos da noção de desvalia da parte dos santos de Deus, vide Jó 38:1,2; 40:4; 42:5,6; Efe. 3:8; Isa. 6. Também Fil. 3:12-15.

2. UM ÓDIO CRESCENTE AO PECADO

Nenhuma pessoa salva ama o pecado; isto é, o amor ao pecado não é o afeto dominante de sua vida. Os pecados que ela comete não são o resultado de um amor normalmente dominante ao pecado senão de um levante ocasional da carne ou da fricção constante entre a carne e o Espírito.

3. UM INTERESSE CRESCENTE NOS MEIOS DE GRAÇA

Quanto mais o Espírito Santo obra numa pessoa, tanto mais ela aprecia a Palavra de Deus, a oração, o culto e o demais; e mais ela se avantaja dos benefícios de tais atos.

4. UM AMOR EM AUMENTO DAS COISAS CELESTIAIS

Este amor substitui o primeiro amor pelo pecado e faz o filho de Deus buscar aquelas coisas que são de cima.

Todos destes frutos do processo santificante impedem o fato que não se pode atingir a impecância nesta vida por encorajar-se o pecado. A presença do pecado na vida do cristão não lhe proporciona nenhuma consolação; pelo contrário, proporciona-lhe pesar. Ele quisera estar livre do seu peso terreno e elevar-se aos cimos de Deus para que sua alma pudesse aquecer-se no sol de justiça. Toda pessoa salva pode dizer com Paulo: “Desgraçado homem que eu sou! Quem me livrará do corpo desta morte” (Rom. 7:24). Ele deseja que fosse sem pecado, mas está indisposto a violentar a Escritura e praticar a auto decepção para fingir que está sem pecado. O seu próprio desejo de impecabilidade impede-o de praticar a hipocrisia, de perpetrar um engodo como todos os perfeccionistas impecáveis fazem.

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