ESTUDO BÍBLICO:O USO MINISTERIAL DO ÓLEO
Além do que vimos até aqui sobre o uso do azeite para fins materiais, como que deixando “o melhor vinho para o final” vamos tratar agora sobre o uso litúrgico do azeite de oliva.
Sem dúvida alguma as escrituras sagradas confirmam a nobreza deste óleo ao menciona-lo direta ou indiretamente nas mais diferentes circunstâncias.
Desde a simples menção da folha de oliveira trazida pela pomba à Noé (Gênesis 8:11) até aos ramos que vertem azeite dourado vistos por Zacarias (4:12) a Bíblia não poupa à oliva, ao seu azeite e à sua árvore as mais profundas analogias com o santo, o formoso, o precioso, o querido, o necessário e o imprescindível.
Nosso objetivo aqui é o de entender e embasar o uso ministerial do azeite na igreja do Senhor nos dias de hoje, mas assim como dedicamos várias linhas à ciência natural deste óleo, organizamos esta parte do estudo por tópicos de modo que sua apresentação gradual resulte no entendimento que buscamos oferecer.
Preciso ressaltar porém, antes de prosseguirmos, que o público alvo deste estudo é o leigo que quer saber um pouco mais e que portanto não me comprometerei aqui com exposições teológicas profundas nem com questões idiomáticas dos originais gregos ou hebraicos, as quais porém poderão ser encontradas nas referências bibliográficas anotadas no final deste trabalho.
I – Um sinal daquilo que é aprovado por Deus
Desde o primeiro livro da Bíblia encontramos o azeite sendo usado por patriarcas, sacerdotes, profetas e apóstolos para assinalar tudo aquilo que de alguma maneira estava diretamente relacionado a Deus ou a alguma de suas obras, desde pessoas a objetos, em todos os tempos.
A unção com óleo sempre indicou a dedicação e a santificação de algo ou de alguém ao serviço do Senhor e do seu Reino, embora, no que tange aos objetos e utensílios dos templos, os exemplos mais detalhados na Bíblia se encontram nas dispensações anteriores ao ministério de Jesus Cristo, nosso Salvador. Entretanto não se deve legar ao passado o mérito da unção dos utensílios da Casa de Deus, considerando que muitos daqueles objetos eram réplicas materiais daquilo que é eterno (portanto existentes até hoje) e foi visto no céu por diversos profetas e apóstolos.
Num exemplo moderno podemos afirmar que a unção com o óleo é como um selo de qualidade ou uma etiqueta escrita “reservado” naquilo ou naquele que é santificado ao Senhor.
II – Um memorial da presença de Deus
Uma das aplicações do óleo da unção sobre objetos e pessoas, desde os tempos do VT, é a de indicar que eles teriam estado ou estariam sendo visitados regularmente por Deus ou pelo seu anjo. Era como um sinal para alertar a todos de que estavam diante de uma referência direta ou indireta da Sua presença, da Sua santidade ou da Sua visitação.
A referência bíblica mais antiga parece ser a da rocha que Jacó usou como travesseiro:
Então levantou-se Jacó pela manhã de madrugada, e tomou a pedra que tinha posto por seu travesseiro, e a pôs por coluna, e derramou azeite em cima dela.
E Jacó pôs uma coluna no lugar onde falara com ele, uma coluna de pedra; e derramou sobre ela uma libação, e deitou sobre ela azeite. - Gênesis 28:18; 35:14
E Jacó pôs uma coluna no lugar onde falara com ele, uma coluna de pedra; e derramou sobre ela uma libação, e deitou sobre ela azeite. - Gênesis 28:18; 35:14
Mais adiante, no livro do Êxodo, encontramos a instituição de Deus para a consagração dos utensílios e dos sacerdotes que entrariam dentro do tabernáculo e futuramente do templo:
E disto farás o azeite da santa unção, o perfume composto segundo a obra do perfumista: este será o azeite da santa unção.
E com ele ungirás a tenda da congregação, e a arca do testemunho, e a mesa com todos os seus utensílios, e o candelabro com os seus utensílios, e o altar do incenso e o altar do holocausto com todos os seus utensílios, e a pia com a sua base.
Assim santificarás estas coisas, para que sejam santíssimas; tudo o que tocar nelas será santo.
Também ungirás a Arão e seus filhos, e os santificarás para me administrarem o sacerdócio – Êxodo 30:25-30.
III – Uma advertência aos pecadores
Na passagem bíblica de Êxodo 30 acima, note-se a frase “para que sejam santíssimas”.
Acreditamos que a presença material do poder de Deus dentro do lugar santíssimo impregnava os objetos do templo com a Sua santidade ao ponto de tornar alguns deles perigosos à vida caso fossem tocados por alguém que não estivesse igualmente santificado.
Isto explica o fato de Deus ter determinado que alguns daqueles objetos possuíssem alças para que através de travessões ou varais eles fossem movidos e transportados sem serem tocados pelos carregadores.
As mortes dos 50.070 homens de Bete-Semes (1Samuel 6:10), de Uzá (2Samuel 6:6) e dos sobrinhos de Moisés (Nadabe e Abiú – Levítico 10:1) demonstram o quanto a separação daqueles objetos era importante, dada a força destrutiva da presença física de Deus (chamada Shekinah) sobre o pecado e àquele que o portar ante a Sua santidade.
Assim, a consagração com a aplicação do azeite servia como um sinal de advertência pública ao cuidado que se devia à Casa do Senhor.
IV – A Fórmula do óleo da unção
Além das aplicações e qualidades já mencionadas neste trabalho sabe-se que o azeite pode agregar muitas outras se for usado como componente de outros produtos.
Ele era um dos ingredientes, por exemplo, das ofertas de alimentos nos rituais do VT:
E quando alguma pessoa oferecer oferta de alimentos ao SENHOR, a sua oferta será de flor de farinha, e nela deitará azeite, e porá o incenso sobre ela – Levítico 2:1
Além desta haviam muitas outras misturas, como os emplastros para curar ferimentos, mas a mais ilustre de todas as misturas era a do santo óleo da unção:
Tu, pois, toma para ti das principais especiarias, da mais pura mirra quinhentos siclos, e de canela aromática a metade, a saber, duzentos e cinqüenta siclos, e de cálamo aromático duzentos e cinqüenta siclos, e de cássia quinhentos siclos, segundo o siclo do santuário, e de azeite de oliveiras um him.
E disto farás o azeite da santa unção, o perfume composto segundo a obra do perfumista: este será o azeite da santa unção. – Êxodo 30:23-25.
A receita com as medidas atuais (b1) :
· 500 siclos (3kg) de Mirra (goma ou resina odorífera vegetal);
· 250 siclos (1kg e ½) de Canela Aromática (árvore da família das Lauráceas originárias do Sri Lanka);
· 250 siclos (1kg ½) de Cálamo Aromático (caule das gramíneas e de outras plantas);
· 500 siclos (3kg) de Cássia (designação comum a várias ervas, arbustos e árvores ornamentais da família das leguminosas, de propriedades medicinais, belas e abundantes flores e cujos frutos são vagens;
· 1 him (3,47 lts) de azeite de oliveiras.
Alguns estudiosos defendem que apesar da menção destes ingredientes, alguns deles representam um grupo genérico de ervas cuja falta de especificação torna o óleo original da unção um produto perdido na história. Argumentam também que as ervas utilizadas pelos sacerdotes eram cultivadas nas dependências do templo, as quais foram totalmente destruídas com ele no ataque romano de 72aC.
V – A consagração pelo óleo da unção
A orientação de Deus sobre a composição do óleo da unção no livro de Êxodo vista acima é seguida pela disciplina quanto ao seu uso e aplicação:
E falarás aos filhos de Israel, dizendo: Este me será o azeite da santa unção nas vossas gerações.
Não se ungirá com ele a carne do homem, nem fareis outro de semelhante composição; santo é, e será santo para vós. O homem que compuser um perfume como este, ou dele puser sobre um estranho, será extirpado do seu povo. – Êxodo 30:31-33.
As partes grifadas são aquelas que no nosso entender representam maior perigo se não forem observadas.
O chamado “santo óleo da unção” original pode mesmo estar irremediavelmente perdido na história e jamais se consiga reproduzi-lo novamente, e assim, alguém possa pensar que não há o que temer quanto ao mal uso daquilo que Deus abençoou, mas a disciplina de Deus incluiu o detalhe: “nem fareis outro de semelhante composição” o qual nos exige especial cuidado.
Note-se ainda os seguintes detalhes da ordenança de Deus grifados na passagem acima:
· não se ungirá com ele a carne do homem – indica que ele não deveria ser usado para uso pessoal, fosse cosmético ou terapêutico;
· nem fareis outro de semelhante composição – indica que não se deveria usar a mesma receita para outras finalidades, buscando impedir a vulgarização do perfume e assim garantir que a Casa de Deus fosse o único lugar onde pudesse ser apreciado;
· o homem que compuser um perfume como este será extirpado – estabelece a punição para quem reproduzir o perfume sagrado para outros fins;
· o homem que dele puser sobre um estranho será extirpado – indica que a unção não poderia ser administrada a um gentio ou a quem ignorasse os verdadeiros valores da fé;
· o perfume composto segundo a obra do perfumista (v. 25)– indica que o óleo da unção não deveria ser uma receita caseira mas um produto refinado e de altíssima qualidade.
A soma destes cuidados nos traz uma compreensão perfeita da austeridade que havia no trato da Casa de Deus no VT, mas ainda gostaria de tratar dois pontos de extrema importância quanto à consagração daqueles utensílios:
· Note-se que aqueles objetos, ungidos com o santo óleo da unção, não se prestariam a nenhum outro serviço a não ser o da Casa de Deus e que...
· ...a sua consagração era de caráter permanente de modo que se tornavam exclusivos ao uso para o qual foram ungidos.
Estes pontos são importantes para as considerações que devem envolver a unção de objetos nos tempos atuais, pois a meu ver, por falta de conhecimento, se vêem líderes e leigos ungindo objetos e até ruas e construções seculares indiscriminadamente e à revelia, ignorando o sentido histórico do ato de ungir ou consagrar.
VI – A consagração pelo azeite
Além do azeite especialmente preparado pelos sacerdotes com elementos finos de perfumaria também encontramos a aplicação do azeite misturado a outros elementos, ou mesmo puro, na unção para diferentes propósitos.
Haviam outros tipos de compostos que também eram usados para ungir, como a pasta de figos (Isaías 38:21) e o lodo usado no milagre de Jesus (João 9:11) de cujo uso se encontraram registros(b2) indicando que era uma prática comum entre os judeus no tratamento de doenças (tratamento - e não cura imediata como na ministração feita por Jesus, claro).
Por isso é que, como dissemos, a unção com azeite puro ou composto, sempre serviu a diferentes propósitos:
· na consagração dos objetos do templo (azeite especial no VT);
· na consagração de sacerdotes, reis e profetas (azeite especial no VT);
· na cura por ação divina (como sinal e não como elemento curador);
Nesta lista é possível perceber duas ordens principais para a unção com óleo – uma voltada ao bem estar do corpo físico do homem (uso medicamentoso ou cosmético) e outra voltada para fins espirituais (consagração e busca de milagres).
Destas duas nos concentraremos na segunda - a que trata das coisas espirituais.
VII – A aplicação do óleo da unção no NT
Repare-se nas seguintes passagens:
- E vós tendes a unção do Santo, e sabeis tudo (...) e a unção que vós recebestes dele, fica em vós, e não tendes necessidade de que alguém vos ensine; mas, como a sua unção vos ensina todas as coisas, e é verdadeira, e não é mentira, como ela vos ensinou, assim nele permanecereis. 1João 2:20,27.
- Amaste a justiça e odiaste a iniqüidade; por isso Deus, o teu Deus, te ungiu com óleo de alegria mais do que a teus companheiros. Hebreus 1:9
- E expulsavam muitos demônios, e ungiam muitos enfermos com óleo, e os curavam. Marcos 6:13
- Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da igreja, e orem sobre ele, ungindo-o com azeite em nome do Senhor. E a oração da fé salvará o doente, e o Senhor o levantará; e, se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados.Tiago 5:14,15.
Nelas pode-se perceber duas linhas de aplicação distintas para o uso da palavra unção:
· a manifestação visível de um dom através da inspiração, de uma vida consagrada ou de um favor divino aos crentes e,
· a aplicação do óleo nas intercessões por cura divina.
VIII – A unção como reconhecimento da inspiração e do favor divino
Na passagem de 1João 2:20,27 acima encontramos uma das bases para a doutrina da unção como um sinal indicador dos verdadeiros servos de Deus. Este é o tipo de unção que atinge apenas pessoas e não requer necessariamente a aplicação física do óleo.
No texto original o apóstolo diferenciou os falsos crentes de sua época, que se faziam anticristos, dos verdadeiros cristãos cuja unção era o maior sinal da aprovação, capacitação e ministração da parte de Deus em suas vidas.
A veemência do elogio apostólico não buscou a deificação(d1) daqueles crentes mas sim um merecido testemunho, pois mesmo sendo cidadãos comuns eles conseguiam preencher todos os princípios básicos da carreira da fé, o que segundo o próprio apóstolo escreveu (“... a sua unção vos ensina todas as coisas...”) se deu porque os filhos de Deus são pessoas orientadas pela unção do Altíssimo.
Mas neste caso a que corresponderia a unção?
Penso que assim como ocorreu com os utensílios e os sacerdotes da casa de Deus no VT, tudo aquilo que o Senhor separa ou escolhe para ser um instrumento Seu se torna santo e ungido, e como foi com a unção física daqueles objetos e pessoas no passado a unção sobre os ministradores de hoje é um sinal para o reconhecimento coletivo daqueles a quem Deus aprova.
Alguns destes ministradores ocupam posições nas quais se celebram ritos de consagração pela aplicação pública do óleo, como os pastores e líderes.
Entretanto a unção e a inspiração a que nos referimos não depende de nenhuma consagração física, antes ao contrário, esta é que depende de uma comprovação mediante a ação visível de Deus sobre o indivíduo a ser notada pela comoção espiritual da sua platéia.
Está aí, inclusive, a maior razão de tantos enganos e decepções na identificação dos verdadeiros ministradores (que são os sacerdotes de hoje em dia) pois o mundo e muitos freqüentadores de igreja (chamados injustamente de crentes), só enxergando o externo, elevam credenciais e postos de trabalho acima da própria unção e acabam naufragando no frágil barco da fantasia onde a astúcia e a demagogia nos lábios de faladores compulsivos fazem dos seus ouvintes discípulos de falsas doutrinas e de misticismos de toda espécie.
Contudo há uma maneira de se evitar este equívoco - a consagração física deve vir sempre depois da unção divina! O óleo por si só não transformará um leigo num teólogo nem um tímido neófito num arrojado evangelista. O óleo não possui propriedades capacitantes nem transformadoras. Ele apenas assinala o alvo da ação de Deus. Esta ação divina pode ser facilmente comprovada pela manifestação verdadeira de algum dos dons do Espírito Santo e/ou algum dos dons de Cristo(r2) naquele que foi ungido.
A aplicação do óleo pode ser considerada como um reconhecimento público do dom divino em um ministro de Deus, cujo mérito reforça a idéia do mencionado “selo de qualidade”.
Arrematemos com as palavras do apóstolo:
“como a sua unção vos ensina todas as coisas, e é verdadeira, e não é mentira, como ela vos ensinou, assim nele permanecereis”.
IX – Cristo – o ungido de Deus
Tanto a palavra hebraica para Messias quanto a grega Christos (r3) significam ungido (r4) e representam o maior exemplo de unção divina que se pode encontrar na Bíblia.
"O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar aos pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, para por em liberdade os oprimidos."
Esta é a passagem de Lucas 4:18 na qual Jesus cita a profecia de Isaías (61:1) e cujo texto expõe o sentido mais espiritual da palavra unção, sendo a maior referência da unção que todos devemos buscar se desejamos ser discípulos legítimos de Jesus e estar em consonância com o ensino de Pedro em sua menção a Levítico 20:7 :
“Como filhos obedientes, não vos conformando com as concupiscências que antes havia em vossa ignorância;
mas, como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em toda a vossa maneira de viver; porquanto está escrito: Sede santos, porque eu sou santo.”1Pedro 1:14-16
A conjugação destas duas passagens mostra como é estreita a relação entre a unção e a santificação. Quando alguém é ungido por Deus ele está automaticamente santificado, ou seja, separado e reservado para uma missão – neste caso – a de ser usado pelo Senhor.
Por isso cremos que a santificação visível é de fato o verdadeiro certificado de garantia daquele que é ungido e que sem ela tudo o que se fizer tentando atesta-la simbolicamente não passará de encenação teatral, pois Deus não terá com ele o menor compromisso, mesmo que se use os instrumentos mais tradicionais como a unção com óleo.
X – A unção nas intercessões por cura divina
Este ponto é sem dúvida um dos grandes motivadores deste trabalho.
Vamos reler as passagens escolhidas:
- E expulsavam muitos demônios, e ungiam muitos enfermos com óleo, e os curavam. Marcos 6:13
- Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da igreja, e orem sobre ele, ungindo-o com azeite em nome do Senhor. E a oração da fé salvará o doente, e o Senhor o levantará; e, se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados.Tiago 5:14,15.
Temos nestas duas passagens bíblicas a prática da utilização do óleo nas intercessões por cura e por livramento.
Apesar de parecer bastante claro para muitos, temos neste caso entretanto um dos pontos mais críticos deste estudo.
O problema está no fato de muitos cristãos e muitas igrejas praticarem a unção com óleo de alguma forma diferente daquela que a Bíblia mostra.
Veja-se nas duas passagens os seguintes detalhes:
1. “...e ungiam muitos enfermos com óleo, e os curavam” – quem “os curavam”? O óleo? Ou os apóstolos através do nome de Jesus?
2. “...e orem sobre ele, ungindo-o com azeite em nome do Senhor. E a oração da fé salvará o doente” O que curará o doente? O óleo ou a oração da fé?
Pode parecer óbvio responder a estas perguntas, entretanto, o que se vê por toda parte é uma espécie de idolatria – uma magia “branca” que se propaga entre crentes e igrejas que não atentam para os detalhes da escritura sagrada.
Por causa do passado de idolatria da maioria dos cristãos convertidos de hoje, muitos deles não resistem aos ensinamentos de certos líderes que não vêem nada de errado em crer e ensinar que o óleo é um instrumento sagrado que tem poderes de cura.
Ora, é isto o que estas passagens bíblicas estão afirmando?
Aqueles que são orientados a dizer que foram curados pelo óleo não teriam sido curados na verdade pela sua fé em Cristo e por que creram que Ele estava presente e atuante no momento da oração que receberam?
Tudo o que estudamos até aqui é suficiente para se ter um bom e perfeito entendimento sobre o papel do óleo da unção no meio do povo de Deus ao longo da história, porém, é necessário examinar mais uma das grandes missões da unção com óleo no contexto do NT para se defender a verdade a respeito da unção.
XI – A marca da ciência de Deus
O que poderíamos concluir, com base em tudo que já estudamos até aqui, inclusive as considerações sobre as passagens de Marcos e Tiago, face ao que vemos no dia a dia da ministração pela oração da fé nas nossas igrejas, senão que a unção com óleo é um sinal - um indicador que garante ao ungido que a sua dor ou opressão fora apresentada ao Senhor?
Ora se a Bíblia garante que a oração da fé salvará o doente, então podemos entender que a unção com óleo tem o sentido de indicar que o doente ungido está separado ou reservado para ser curado por Deus!
A unção com óleo, em todos os tempos, não teve sempre o significado de indicar aquilo que está separado para ou separado por Deus?
Da mesma forma o doente ungido está separado, consagrado e dedicado a se tornar alvo da ação direta das mãos de Deus e conseqüentemente num instrumento de glória ao Seu nome através do testemunho da sua libertação.
Resumindo, a unção com óleo para a cura dos enfermos e cativos tem duplo sentido: o de certificar ao doente que a sua causa foi apresentada a Deus e o de notificar a todos os presentes que a pessoa ungida está destinada a ser tratada pelo Senhor.
Não há magia no óleo da unção! Ninguém será curado pela ação de um poder místico contido no frasco de azeite!
A passagem de Tiago 5:15 é incisiva: “A ORAÇÃO DA FÉ SALVARÁ O DOENTE”. Restaria alguma dúvida sobre a autoria ou sobre o verdadeiro canal da obtenção da cura?
A fé é de fato o pré-requisito para toda ação de Deus sobre um ser humano, e os dois versos escolhidos nos certificam que a unção deve ser ministrada àquele que tem fé na cura divina!
Ungir alguém que não acredita no poder de Deus pode gerar confusão pois, se depois de algum tempo o ex-doente aparecer recomendando um remédio ou um médico, parecerá aos seus ouvintes estar desviando o mérito da cura para o homem e aos seus recursos ao invés de dedica-lo a Deus a quem fora encomendada em oração, insinuando que o remédio ou o médico foram mais eficientes que o Senhor.
Por isso foquemos por um instante o assunto cura divina. O que chamamos de “a oração da fé” não seria a oração resultante da convicção perfeita no poder de Deus? Ora, o texto é claro – ele assevera que este é o tipo de oração que curará o doente – é uma afirmação categórica e irrefutável – o doente será curado se a oração da fé realmente acontecer!
Este é o quadro em que cabe a unção com óleo – através da oração da fé o doente adentra o tabernáculo de Deus e o azeite se torna então numa figura material desta circunstância espiritual.
Sem o comparecimento pela fé à presença de Deus a unção com óleo será inócua, ou seja, não surtirá nenhum efeito não importa o quanto a envolvam com palavras de ordem ou emoções. “A ORAÇÃO DA FÉ SALVARÁ O DOENTE!”
XII – Ensinando a crer pela fé
O que podemos concluir disso?
Penso que o tempo gasto para se idolatrar o óleo da unção, tentando atribuir-lhe poderes curativos, está longe do verdadeiro propósito de Deus. Não se deve em caso algum creditar o poder da cura divina a nada senão ao Senhor.
“Eu sou o Senhor; este é o meu nome; a minha glória, pois, a outrem não darei, nem o meu louvor às imagens de escultura” Isaías 42:8.
Este verso é um dos muitos exemplos bíblicos do pecado de desvio da glória que pertence a Deus.
O tempo a ser aplicado no ensino das igrejas pelos seus pastores, portanto, deve ser orientado à busca e ao aperfeiçoamento da fé – esta sim – é a base, a coluna e o sustentáculo da vida cristã. Dela nascerá e viverá o justo, pois dela ele obtém a cura divina e por ela é que ele alcança a salvação! (Rm 10:17, Hb 10:38, Tg 5:15 e Ef 2:7).
XIII – Missão nobre
Em última análise a unção com óleo deve sinalizar fisicamente a fé verdadeira no poder de Deus. Se assim for, a sua aplicação será reverenciada por todos e o seu valor será preservado por muito tempo sem que se tema a idolatria ou o misticismo.
Sou defensor da teoria de que nem Deus nem nada que Ele nos tenha deixado precisam de alguma “ajudinha” para fazer as pessoas crerem nEle. Tudo em Deus é suficientemente poderoso para operar a obra que precisa ser feita. O misticismo e a magia com que muitos “ministros” procuram complementar a obra de Deus acabam desviando a fé das pessoas para aquilo que a mão toca tornando-a morta, pois como todos sabemos a fé, por definição, embora não possa ser tocada, é a prova das coisas que não se vêem! (Hb 11:1).
Se este desvio pode ser enquadrado no rol das heresias toleradas nas igrejas, o que dizer dos rituais de unção de incrédulos, de ruas, de postes, de escolas, de hospitais e tantas outras coisas que não foram feitas para instrumento exclusivo nem separado para Deus?
Ainda poderíamos tolerar que alguma coisa, a qual por revelação divina se saiba que será usada por Deus nalguma de Suas obras, venha a ser ungida para aquele propósito, mas o que vemos ser praticado em muitos lugares deixa transparecer a todos, até para os ímpios, que parece existir no seu ministrante uma espécie de arrependimento por ter deixado a vida de idolatria, ou ainda, que o uso de alguma coisa palpável o ajuda na compensação da sua própria incredulidade.
O óleo da unção só deve ser aplicado naquilo que é ou se tornará numa ferramenta exclusiva ou num alvo da ação direta de Deus, seja para ministrar ou para ser o objetivo da ministração!
O óleo da unção não pode ser usado em nenhuma encenação nem em qualquer situação onde o objeto ou a pessoa a ser ungida possuam impedimentos à obra de Deus, sob pena de tornar a unção numa coisa vulgar e com isso esvaziar a fé das pessoas nesta ministração dignificada por Deus na Bíblia.
Conclusão
Alguns escritores, em conformidade com suas igrejas, acham que, com base em algumas informações históricas, a unção para curas e milagres já cessou na Igreja de Cristo, considerando que as unções foram um tipo de ministração dos tempos apostólicos.
Também pesa contra a dignidade da unção com óleo o misticismo e a heresia católica, que interpretando erroneamente o texto de Tiago, viram na declaração “salvará o doente” uma base para sacramentar o ritual da extrema unção.
Entretanto nos cabe testemunhar que a prática bíblica e reverente da unção, sob a oração da fé, nos tem brindado diariamente com o testemunho ocular de curas e inspiração comparáveis aos tempos apostólicos.
Portanto, seja santa a unção, não por causa dos atributos tradicionais do óleo mas por causa dAquele cuja ação a ministração do óleo faz lembrar. E como tudo o que é santo, ela deve ser ministrada com temor e prudência para não acontecer de se ungir o que não pode ser abençoado, e assim, torna-la leviana e portanto... mentirosa.
Que o Senhor possa abençoar a muitos com este modesto material que Ele nos inspirou a escrever, e que este possa contribuir de alguma forma para esclarecer o leigo e humilde leitor da Bíblia – o alvo principal da atenção de Deus em todos os tempos (Salmo 101:6,7).
Category:












0 comentários